Engenho nunca nos faltou. O problema tem sido outro nos últimos dois séculos e meio.
Ao olhar para as vastas terras do globo que um dia formaram o Império Português, é impossível, ao menos para os que possuem sensibilidade geopolítica e conhecem as rotas internacionais de comércio, os recursos naturais e a importância de certas posições, não concluir que somos a "possibilidade" mais poderosa do planeta. Ao lembrarmos que o Império Romano foi formado graças à acção tenaz de uma elite pouco numerosa a partir de uma aldeia num processo que durou séculos, e durante os quais certos valores foram transmitidos com sucesso de geração em geração, possibilitando um crescimento contínuo que deu à Roma massa crítica para a "explosão" registada a partir das guerras púnicas, e pensarmos que os actuais territórios do mundo que um dia formaram o Império Português foram conquistados a partir de um pequeno pedaço de terra que nem sequer cobria o actual Portugal Europeu, um território pobre, acidentado, impossibilitado de ser cortado por uma rede de canais e sem grandes rios navegáveis, para além de dotado de poucos portos naturais e nenhum arquipélago junto à costa (as Berlengas não contam), e pouco populoso, é fácil perceber que estamos diante de duas opções: a submissão total a um poder exterior - e o possível extermínio físico do nosso povo - ou a grandeza que fará estrangeiros reagirem ao nosso nome com o mesmo assombro que manifestamos diante do nome Roma, e só a vontade nos separa da segunda opção.
Hoje, não nos falta população e nem território, e temos massa crítica suficiente para sermos uma potência científica e tecnológica, faltando para isso apenas empenho para cumprir um dever em relação aos nossos antepassados, que é dever de preservar o que eles nos legaram a custa de sacrifícios imensos, que hoje, no mundo do consumismo e do endividamento, ou seja, das aparências, somos incapazes de "medir", e um dever para com os nossos descendentes, que é garantir que as liberdades das quais gozamos, e mais aquelas das quais gozaram nossos antepassados e podemos restaurar, sejam asseguradas material e espiritualmente, nos armando. É a partir daí, dada a natureza da tecnologia, ainda mais nos dias de hoje, que o progresso material pode dar um salto e nos levar a grandes feitos de civilização, tais como as estradas romanas ou as catedrais da Idade Média, coroando assim um processo que no fundo mais não é do que o resultado do estabelecimento de uma ordem justa. Na África sub-saariana, temos uma missão civilizatória clara, que envolve a protecção daqueles povos contra as potências agressivas e a sua elevação espiritual, preparando assim o mais sofrido continente do mundo para uma nova fase onde o nome África seja associado à prosperidade, à moralidade, à erudição e à felicidade, fazendo pelos africanos o que o Império Romano fez por nós, missão essa onde a Igreja, tal e qual se deu entre nós, será essencial.
É nisso que penso quando me deparo com os sucessos notáveis da incipiente colaboração tecnológica e industrial entre o Brasil e Portugal, colaboração que recentemente alcançou um novo êxito:
Apesar de ficar contente com isso, não deixo de sentir uma enorme frustração quando penso em tudo que já poderia e deveria ter sido feito, não apenas no sector aeronáutico, onde poderíamos estar desenvolvendo caças de quinta geração e aviões de passageiros para 300 ou 400 passageiros, como até mesmo no ramo dos foguetes lançadores de satélites, dos mísseis, dos sistemas anti-míssil, da metalurgia, da construcção de navios de guerra com as mais variadas funções e até mesmo de porta-aviões, submarinos nucleares,...
Não há nada que nos impeça de o fazer, a excepção dos nossos governos...
E quando surgir, este Império será brasileiro ou português? A sua capital será Brasília ou Lisboa? A sua bandeira, a das quinas ou a da esfera armilar? Pode-se sobrepor as quinas à esfera, como no passado, e chamar-se luso-brasileiro ao Império, mas não se pode negar que haverá alguma luta interna por preponderância. Sou brasileiro descendente de militares portugueses por varonia legítima sem quebra que remonta ao século XVII, e a minha lealdade primeira está e estará sempre com o Brasil; já você é brasileiro de primeira geração e, conquanto sonhe com a ascensão dum Império luso-brasileiro, fá-lo com os olhos postos num Renascimento Português. Não se engane: brasileiros de raízes lusitanas mais antigas como eu têm imenso apreço por essas raízes e lutariam conjuntamente com os portugueses pela formação de um novo Império em que Portugal teria, quando muito, um estatuto igual. Friso: quando muito! Calha transcrever aqui o trecho de uma carta de D. Pedro, então príncipe regente, ao seu pai, às vésperas da proclamação da Independência:
ResponderEliminar"Vossa Majestade, que é rei há tantos anos, conhecerá mui bem as diferentes situações e circunstâncias de cada país; por isso Vossa Majestade igualmente conhecerá que os estados independentes (digo os que de nada carecem, como o Brasil) nunca são os que se unem aos necessitados e dependentes. Portugal é hoje em dia um estado de quarta ordem e necessitado, por consequencia dependente; o Brasil é de primeira e independente, atqui que a união sempre é procurada pelos necessitados e dependentes; ergo a união dos dois hemisférios deve ser (para poder durar) de Portugal com o Brasil, e não deste com aquele, que é necessitado e dependente. Uma vez que o Brasil todo está persuadido desta verdade eterna, a separação do Brasil é inevitável, a Portugal não buscar todos os meios de se conciliar com ele por todas as formas."
Estas palavras permanecem atuais e válidas para o eventual surgimento de um Império luso-brasileiro: o imperador, e não poderá haver dois, não seria o Chefe da Casa Real Portuguesa, mas o Chefe da Casa Imperial Brasileira.
Não se convencer desta verdade eterna é fadar ao fracasso todos os seus esforços.
Não se lhe exigirá que escolha entre ser brasileiro ou português, mas deverá perguntar-se se estará disposto a jurar fidelidade ao Chefe da Casa Imperial Brasileira, que será o Imperador do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves (repare na ordem em que aparecem os nomes dos Reinos: não é gratuita!), ou se lutará como Quixote por submeter o Brasil, acenando-lhe hipocritamente com uma união igual.
Uma união igual entre desiguais só beneficiaria o mais fraco, e não há dúvidas de quem é e sempre será o mais fraco.