sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Algumas palavras sobre a Covid, o Great Reset e as eleições americanas

 


Hoje cruzei com mais dois casos de pessoas que terão de fechar os seus negócios (já conheço algumas dezenas), mas ainda não conheci uma só pessoa que tenha perdido alguém próximo, ou que tenha falecido por causa dessa porcaria de doença que, se tivesse havido disposição política para reverter o que foi uma política geral nas últimas décadas, não teria nos obrigado a mais do que algumas semanas de restricção dos movimentos: me refiro ao desmantelamento da saúde pública. O povo deveria exigir as cabeças dos responsáveis por todas as reformas neo-liberais das últimas décadas e, no caso de Portugal, pela entrada na União Europeia, pela adopção do euro e pelo fim de quase todas as actividades productivas em favor do consumo/endividamento e da transformação disto numa cópia barata de Las Vegas.

 

A carga de emotividade negativa que absorvo ao ver a dizimação do que ainda resta da classe média proprietária é tal que voltei a ficar com um ombro e a zona lombar cheia de dores (por causa de um nervo onde a minha tensão costuma se acumular). Diante da verdadeira mortalidade dessa praguinha, pois se trata mesmo de uma praguinha ridícula, e das consequências das medidas implantadas, que favorecem os monopólios e a uberização, que não passa de uma restauração dos direitos senhoriais, mas sem os deveres respectivos, na era informática, só um tolo pode achar que a Covid não passa de um pretexto para a lumpenproletarização dos 99,99% em favor dos 0,01%. Se não fosse a Covid, seria outra coisa qualquer pois "estes tipos" jogam com várias cartas. Ainda que todas as medidas, como foram concebidas, fossem aceitáveis, só seriam legítimas politicamente se viessem acompanhadas da nacionalização de todos os negócios das corporações e do confisco puro e simples das fortunas acima de 5 milhões de euros, e estou a ser generoso, de forma a se compensar a todos pelos prejuízos que tiveram por causa da pandemia. Nenhum multimilionário morreria de fome com 5 milhões e, se algum reclamar, lembremos a ele que isso é o novo normal. Ou valerá o novo normal apenas para desgraçarmos ainda mais os desgraçados?

 

O tal "Great Reset" é parte do plano em curso e a eleição de Biden foi fundamental para que essa cartada seja tentada. O Great Reset mais não passa de um golpe final contra os negócios que não fazem parte do sistema corporativo sob pretexto da verdadeira crise que tentam nos ocultar há anos, ou melhor, há mais de uma década, e foi construída em torno do estímulo ao consumo perdurário, ao endividamento, à desindustrialização, à super-burocratização e à terceirização da economia: me refiro às gigantescas dívidas públicas e privadas, de compromissos passados e futuros, assim como à cripto-inflação traduzida na explosão dos preços das propriedades imóveis e na queda do padrão de vida, que experimentamos desde o fim do padrão-ouro, processo que acelerou desde a imposição do euro em parte da Europa Ocidental e desde a presidência Obama e seus inúmeros pacotes trilionários para salvar a economia.

 

Que fique bem claro que aqueles que advogam o contrário não passam de cúmplices de um golpe que, mesmo que seja bem sucedido, posso garantir que no final conduzirá a civilização ao colapso e, no meio deste processo, posso também garantir que aqueles que acham que serão ganhadores perderão o controle sobre os acontecimentos e serão engolidos pela máquina de moer carne da história!

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Biden: a escolha dos que desejam uma Guerra Mundial

 


Entre Trump e Biden, não hesito em fechar com Trump e não temo dizê-lo. Trump, de certa forma, representa um retorno ao imperialismo nacionalista de um Theodore Roosevelt, com pitadas de industrialismo e nacionalismo económico à Hamilton e populismo à Jackson. Enfim, algo bem diverso do que representa Biden, um preposto de interesses político-económicos cujo objectivo é transformar o mundo numa espécie de prisão gerida por instituições supra-nacionais em favor da tal "Elite de Davos".


Quanto ao que cada um representa geopoliticamente, Trump está mais alinhado com o pragmatismo Kissingeriano, ou seja, tentará administrar a decadência relativa americana gerindo o triângulo constituído por EUA, China e Rússia, enquanto Biden é um continuador da política concebida por Brzezinski de aproximação económica e geopolítica à China, satisfazendo o público interno com as críticas à Pequim baseadas num conceito universalista de direitos humanos, e de pressão militar crescente sobre a Rússia. Traduzindo: se Biden ganhar, Putin poderá ficar contra a parede e, se ficar sem opções, será obrigado a atacar antes que o cerco se feche. 

 
Pensem bem antes de apoiarem o Sr. Biden.

sábado, 31 de outubro de 2020

Guerra de desgaste

 Há cerca de dois anos, os EUA e seus governos títeres no Brasil e Colômbia vêm promovendo ameaças contra a soberania venezuelana. Qual é a jogada? Cui bono? Antes vamos relacionar com dois eventos similares, ambos no Oriente Médio, ambos eventos de guerra entre dois países ao longo de suas fronteiras, ambas motivações aparentemente territoriais, um atual e o outro no passado. São os conflitos de Nagorno-Karabakh e a guerra Irã-Iraque (1980-88). Os interesses que aproveitaram estas tragédias, certamente aproveitarão também no caso de uma guerra na fronteira Brasil-Venezuela. Inclusive, como visto, já se manifestam.

Nagorno-Karabakh: Armênia-Azerbaijão.

Sem entrar em detalhes não necessários agora, as duas pequeninas ex-repúblicas soviéticas representam, cada uma, dois poderes do jogo geopolítico mundial. Apesar de estarem na região do Cáucaso, os dois países se inserem no contexto do Oriente Médio, pelo menos nesse caso é mais do que evidente. O suporte do Azerbaijão provém de Israel e Turquia, que por sua vez são diretamente alinhados ao poder hegemônico do sistema financeiro mundial, encabeçados pelos EUA, tendo a União Europeia e OTAN (a Turquia é membro desta) como instrumentos primordiais. Sendo assim, Israel e os otomanos são os principais representantes deste lado no tabuleiro do Oriente Médio, onde o conflito entre azeris e armênios se contextualiza.

A Armênia é fortemente alinhada à Rússia, possuindo tropas deste país em seu território desde o fim do primeiro conflito com o Azerbaijão, em 1994. Esta questão contextualizada no jogo do Oriente Médio, implica numa participação significante do Irã (o maior aliado russo na região) ao lado da Armênia. Durante o primeiro conflito, os persas mediaram as conversações entre ambas as partes. Não tocarei nas motivações territoriais ou religiosas desta guerra, pois são apenas um pretexto, com base em motivações já desfiguradas, para os poderes hegemônicos (EUA-EU-OTAN-Turquia-Israel) infiltrarem suas sementes da discórdia nas fronteiras russas. Na minha singela opinião, acreditar que no século 21 existam guerras simplesmente por motivos territoriais ou religiosos, é basicamente devaneio de uma mente desinformada. Não avançarei mais neste tópico, pois serve apenas de exemplo para entender o nosso caso sul-americano, também fica respondida aqui qual é a jogada.

É a velha geopolítica norte-atlântica de cerco contra a Rússia, tal como os casos recentes de Geórgia (2008) e Ucrânia (2014). Não só isso, como também se insere no jogo energético baseado na Ásia Central, com vários oleodutos e gasodutos, além de fontes energéticas, rumo a Europa (e posteriormente os EUA) atravessando o Cáucaso e o Mar Negro. Nada melhor, para a hegemonia, do que utilizar nações-anãs em guerras por procuração, camufladas na ladainha dos ‘’litígios territoriais’’, no caso, o mais diminuto ainda território de Nagorno-Karabakh, entre Armênia e Azerbaijão.

A guerra Irã-Iraque, nos anos 80.


Não há necessidade aqui de analisar a fundo as motivações e implicações desta guerra encerrada há 32 anos. O fato mais importante são as suas características como guerra de desgaste, prolongada por longos oito anos em que nenhum dos lados, longe de serem pequenas nações, como no caso Armênia-Azerbaijão, conseguia avançar efetivamente, tanto em termos de objetivos quanto de territórios conquistados. O que permitiu isso, sem sombra de dúvidas, foi o envolvimento de dezenas de países, de todas as regiões do planeta. A maioria fornecendo armamentos, equipamentos e os mais diversos insumos, para ambas as partes!

Irã e Iraque foram armados com uma gama inimaginável de engenhos, inclusive terríveis armas químicas, utilizadas pelas forças de Saddam Hussein. O Brasil foi um dos principais atores neste evento do Oriente Médio, com nossa indústria bélica vivendo sua época áurea nos anos 80. Fornecemos blindados Urutu e Cascavel, de nossa saudosa Engesa, para ambos os países, tendo também o Iraque recebido os poderosos lançadores múltiplos de foguetes ASTROS, fabricados pela Avibrás. Foi um verdadeiro bazar em que várias nações e empresas auferiram fortunas às custas da destruição mútua da Mesopotâmia e da Pérsia.

As duas superpotências do globo terrestre, EUA e URSS, temerosas da revolução islâmica recém-ocorrida no Irã, que poderia lançar o país numa empreitada pela supremacia na região altamente estratégica do Oriente Médio, expulsando ambos, firmemente tomaram o lado do regime de Saddam Hussein. Isso não os impediu de manipular o jogo de forma mais ardilosa, armando também o regime dos aiatolás. Temerosos da mesma forma, com as chances de um Iraque nacionalista, promotor da união de todo o mundo árabe, e armado até os dentes, alcançar aquela mesma supremacia sobre todos os poços de petróleo no Oriente Médio, sem bandeiras ianques ou soviéticas. Ambas as superpotências procuraram causar o maior dano possível simultaneamente em ambas as potências regionais, alijando-as de futuras ambições.

Brasil x Venezuela: alucinações de uma meia dúzia de doentes alçados ao poder.

Contrariando criminosamente uma bela tradição secular de alta diplomacia, responsável por promover uma relativa estabilidade política em toda a América do Sul, legado do gigante Barão do Rio Branco. O atual chanceler Ernesto Araújo, e seu inepto presidente da República, vem lançando o Itamaraty e o Brasil numa palhaçada desastrosa. Nosso país não ter nada a ganhar com isso, é observável a olho nu, sem necessidade de um especialista. Com base na exposição anterior, do caso Irã-Iraque, fica claro os rumos que esta tragédia pode tomar, considerando ainda que se trata de um país nada pequeno, a Venezuela (muito bem relacionada com Cuba, Irã, Rússia e China) contra o próprio gigante continental do Sul, nosso país.

O enfraquecimento de ambos, Brasil e Venezuela, é uma peça-chave para as pretensões estadunidenses de intensificar seu imperialismo na região. Como falei num texto anterior, os EUA vem perdendo em praticamente todas as frentes do mundo [1], inclusive dentro da América Latina, sendo o Brasil uma exceção (por pouco tempo!) na qual eles pretendem tirar o máximo de proveito. O (des)governo atual oferece (de pura e espontânea vontade) todas as condições para isso. A subserviência, destes representantes civis e militares, aos gringos, é de dar asco. Chegaram ao ponto de realizar uma grande manobra militar simulando uma guerra contra a Venezuela, para agradar aos senhores dos quais servem. Como se isso não fosse suficiente, o exercício contou ainda com a presença de militares do US Army. [2]

https://www.youtube.com/watch?v=imGtFwDGNNg

Os sinais da perigosa situação na qual o Brasil vem sendo empurrado, contra um país fortemente apoiado pela Rússia e pela China, se acumularam nos últimos dias. Desde quando o Conselheiro de Segurança Nacional estadunidense desembarca com toda uma equipe simplesmente para tratar de comércio com empresários da FIESP? [3] Além disso a chefe do Eximbank (BNDES estadunidense) integrou a comitiva. O que tramam?

Temo que aproveitarão um hipotético conflito entre as duas pátrias sul-americanas para abastecer o Brasil com armamentos oriundos de seu complexo industrial-militar (uma máquina insaciavelmente faminta por guerras mundo afora para auferir lucros infindáveis).  [4] Colocando de escanteio o fabricante nacional, fazendo-o desaparecer, ou na melhor das hipóteses, tornar-se um representante local das corporações norte-americanas. O mesmo que foi tentado com a Embraer, através da Boeing. Felizmente o negócio (leia-se a falcatrua) fracassou.

Para agravar a situação, a região habitada pela etnia indígena Yanonami fica exatamente na fronteira Brasil-Venezuela, abrangendo parcelas de territórios de ambos os países. No estado de Roraima se situa a controversa reserva Raposa Serra do Sol, considerada território da mesma etnia. 


                       

                                                                                      
É tudo o que os poderes hegemônicos desejam, um enorme pretexto ‘’humanitário’’ e ‘’ambiental’’ para ‘’salvar’’ a Amazônia e os índios, exatamente numa região prenhe de minérios e outras riquezas incalculáveis, você não acha? Imagine as conscienciosas almas do Primeiro Mundo, habitantes de centros cosmopolitas da OTAN, como NY, Londres, Paris, Bruxelas, Frankfurt, Amsterdam, Copenhagen e Oslo, ao assistirem as cenas de mísseis, foguetes, projéteis e bombas destroçando parcelas da floresta e de aldeias indígenas indefesas. Receita para o caos. [5] [6] (Leiam estas duas notas, são muito importantes para compreender este tópico).

Para completar a receita (tudo isso já não era suficiente?!), um fato que já procurei alertar desde o início, pois se encaixa perfeitamente nesta agenda da OTAN na Amazônia, portanto fora de sua área original de atuação. Foi o acordo Colômbia-OTAN, celebrado há dois anos. [7] Meus amigos, dessa forma temos, bem em nossas fronteiras, o barril de pólvora do confronto geopolítico EUA/OTAN/Hegemonia versus Rússia/China/Contra-hegemonia. E o pavio, obviamente curto, são estes maníacos alucinados como Bolsonaro, Araújo e Mourão, dentre outros. 

João Victor Gasparino, escritor e analista independente.

Notas:
[1] http://libertoprometheo.blogspot.com/2019/12/guerra-hibrida-o-imperio-perde-no-mundo.html
[2] https://crusoe.com.br/diario/a-convite-do-exercito-militares-dos-eua-visitaram-simulacao-de-guerra-na-amazonia/?fbclid=IwAR376gn_nsH2AfvhV3g2btfLocFEfXOr8QXAhhEY7w4OOnK9gjaIG9BucTQ
[3] https://www.aeroin.net/aviao-forca-aerea-dois-pousou-ha-pouco-em-sao-paulo-veja-por-que/
[4] https://www.defesanet.com.br/bid/noticia/37889/Bolsonaro-quer-comprar-armas-nos-EUA-e-sela-mal-estar-com-industria-nacional/
[5] https://www.defesanet.com.br/gi/noticia/38302/Alerta---A-%E2%80%9Cretomada-verde%E2%80%9D-da-OTAN/
[6] https://www.defesanet.com.br/otan/noticia/38384/A-OTAN-e-a-origem-do-movimento-ambientalista/
[7] https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/05/colombia-e-aceita-na-otan-e-se-torna-o-1o-pais-da-america-latina-na-alianca.shtml