sexta-feira, 14 de abril de 2017

O cerco sobre Putin e as opções da Rússia




Trump jamais representou uma alternativa. Apesar do meu cepticismo, mantive uma dúvida científica a respeito das reais intenções de Donald até há poucas semanas, manifestando o meu cepticismo publicamente de maneira discreta (aqui e aqui). Na melhor das hipóteses, imaginava que a eleição de Trump poderia significar um golpe de parte significativa da elite americana (e de elites transnacionais mais pragmáticas), aproveitando-se do descontentamento geral da população nativa deixada à margem pelos efeitos da globalização, contra o globalismo mais ambicioso, encaminhando os EUA para uma espécie de imperialismo nacionalista. Os factos provaram que essa hipótese era ingénua. Sendo assim, nem comentarei os prognósticos generalizados numa certa direita que viam em Trump uma espécie de herói libertário com toques de nacionalismo à século XIX. Trump é uma criatura do establishment bancário. No máximo, levando em conta uma possível disputa entre os irmãos Koch, os maiores financiadores da campanha Trump, e Georges Soros, testa de ferro dos Rothschild, se poderia esperar apenas uma mudança de posição das peças no tabuleiro. Não foi isso que aconteceu. Trump enganou a todos, e tentou enganar Putin.
Não creio que Putin tenha apoiado Trump por ingenuidade, ou que tenha depositado grandes esperanças na troca de um primata por um suíno. Os serviços de informação russos conhecem Trump melhor que a própria família de Trump. Porém, é inegável que a eleição de Trump foi a victória do descontentamento com o actual establishment, ainda que tenha sido um êxito roubado pela mentira descarada. Isto manteve no poder o mesmo establishment que governa ininterruptamente os EUA desde a era Kennedy, é verdade, mas isso não impede que a sua posição se tenha tornado mais frágil. É perigoso mostrar de forma tão descarada que existe uma continuidade na política externa americana, servindo a interna apenas para polarizar as massas, e que o processo democrático foi totalmente viciado não deixando alternativa a não ser a desobediência civil. Hoje mesmo Bernie Sanders, um escroque que encena a figura do esquerdista desalinhado, veio apoiar a deposição de Assad! Por outro lado, uma crise externa pode, considerando os instrumentos de poder criados nos EUA a partir do Patriot Act, fornecer o pretexto para o estabelecimento de uma ditadura que passe por cima de todos os direitos consagrados na república americana, que se tornou irreconhecível para quem tem ao menos umas quatro décadas de vida (e não sou daqueles que acreditam que aquilo já foi uma terra prometida). Os ataques recentes não foram aprovados pelo congresso e isso tem sido a praxe desde Obama.