terça-feira, 6 de maio de 2014

Os foros especiais do Novo Regime

Até nos assaltos de estrada o Antigo Regime exalava superioridade!


Em primeiro lugar, devo a todos os leitores e colegas do blogue algumas explicações para o meu desaparecimento recente. Para além de trabalhos burocráticos inúteis aos quais não me posso furtar devido ao zelo extraordinário dos donos de Portugal, e do mundo, trabalhos esses que mais não fazem do que me roubar tempo, disposição e criatividade, fenómeno que atinge os próprios burocratas, categoria que merece, apesar dos maus elementos (que abundam), toda a nossa consideração, pois não foi ela que criou o regime em que vivemos e de cuja boa vontade depende o funcionamento da sociedade num quadro em que as próprias regras ditadas pelos "soberanos" visam paralizar toda a actividade e conduzir a sociedade à anomia, também ando ocupado com uma situação criada por um atraso num negócio vital induzido por essa mesma máquina de triturar, negócio tornado ainda mais difícil pela ineficácia do sistema judicial. 

Aproveitando o tema da ineficácia do sistema judicial, lembro que o mesmo só se dá no caso dos pequenos negócios e dos indivíduos. As corporações, pelo contrário, não só gozam de um sistema judicial eficaz, mas sobretudo gozam de privilégios que fariam corar a vilipendiada - por vezes com razão - nobreza do antigo regime. Em verdade, gozam de um foro próprio. Ontem mesmo me deparei com duas situações que demonstram bem o contraste em que vivemos, que põe abaixo a propaganda liberal ao desmascará-la com factos. A caminho do ofício local das finanças, passei por uma velha carrinha carregada de batatas parada ao lado de um jipe branco gigolô com matrícula de 2014 e reparei que o conductor da carrinha, um homem que claramente se tratava de um pobre diabo que vive do seu suor e mal consegue pagar as contas, como quase todos nós, estava a dar explicações a dois indivíduos vestidos à playboy e de óculos de sol ao melhor estilo azeiteiro, portando coletes como aqueles que nos obrigam a ter no carro identificando-os como agentes da GNR.

A intensidade da guerra fiscal declarada contra os portugueses continua a aumentar e o Sr. Passos Lebre prova que bem mereceu a sua indicação. Porém, o mérito não é dele, mas dos seus patrões, que tiveram a sabedoria de perceber que os portugueses já estavam cansados de ser sodomizados por um cocaínomano histérico e era preciso uma mudança para que tudo continuasse na mesma, mudança que deveria começar - e terminar - no "estilo" do violador de aluguer. Escolheram bem. O estilo passinhas não deixa mais do que uma impressão passageira, ao contrário do estilo animal feroz. Funciona tão bem que ele até se sentiu confiante para - novamente - aumentar a carga tributária há poucos dias.

Como disse antes, ía a caminho do ofício das finanças, portando uma carta de reclamação contra uma cobrança indevida. Ao contrário do que pareceria normal, minha reclamção não era relativa a impostos ou taxas, mas sim a uma cobrança de uma empresa "privada", a empresa salteadora de estradas Ascendi. Antes de continuar a história, recomendo a todos os leitores que lembrem de duas coisas. A primeira é o facto das cobranças das corporações serem feitas coercivamente e contarem com a pronta acção das autoridades estatais, sejam tribunais ou agentes da polícia, e gozarem de privilégios como a cobrança de juros de mora muito superiores à taxa de juros oficial. A segunda é a impossibilidade de contarmos, como indicíduos ou pequenos empresários, com o sistema judicial em caso de calote. A verdade é que sai mais caro tentar reaver as dívidas recorrendo à justiça do que simplesmente deixar as esperanças de lado. Há uma outra solução, que é o recurso a ferramentas extra-judiciais. Porém, essa solução também acaba por esbarrar novamente no sistema pois os mesmos que o dominam gostam de manter o monopólio do uso dos recursos extra-judiciais, cada vez mais usados pelos senhores do mundo.

Voltemos à Ascendi, a tal empresa salteadora de estradas. Recebi uma cobrança coerciva das finanças relativa a quatro scuts não pagas, coisa que estranhei pois sempre quando passo nessas rotas de pilhagem, o que evito, trato de pagar a protecção pois sei bem que dentro de alguns anos começarão a tirar casas das pessoas por causa de "dívidas" para com os salteadores de estradas. De acordo com o conteúdo da mesma, uma conta inicial de uns 4 euros se transformou numa conta de uns 160, tudo por causa do facto de me terem contactado através de um endereço errado, no qual o carro nunca esteve registado. De acordo com as datas das portagens, durante a primeira passagem numa estrada dominada o carro que conduzia ainda estava em propriedade do banco, e nas outras três ele já estava em minha propriedade, registado desde o primeiro dia no meu actual endereço. 

Ao mostrar os documentos que provavam as minhas afirmações ao funcionário das finanças, ao qual, logo no princípio, expliquei que teria de relatar um caso tedioso e ganhei a simpatia ao afirmar que tinha pena de ter de fazê-lo pois o cavalheiro deveria estar cansado e farto desse tipo de trabalho, o que ele confirmou ser correcto,  ele me fez uma confidência, dizendo que isso é práctica corrente da Ascendi, que "atira" em todas as direcções para ver se acertar em algum transeunte desavisado, que não tenha paciência ou manha para dissecar as cartinhas e os casinhos da Ascendi. Ou seja, temos uma empresa privasa cujos directores, conscientemente, usam e abusam dos recursos do ministério das finanças, ou seja, usam os nossos recursos para nos enganar.

E quando o engodo não funciona, nada se passa. Todo o trabalho e todos os recursos disperdiçados são pagos por nós, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Enfim, seria menos ofensivo receber cobranças coercivas indevidas do ministério das finanças em nome do Professor Bambo!
 

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