A rejeição da guerra contra a Síria por uma pequena maioria da Câmara dos Comuns foi uma boa notícia, afinal, agora Obama ficará ainda mais isolado, contando apenas com outro apoio "significativo": o governo francês. Porém, terá que fazer uma guerra sem consultar o Congresso, ignorando a Constituição - para variar - e o facto de apenas 9% dos americanos apoiarem a agressão. O que dizer da ideia de representatividade e da independência de poderes diante desses factos? Os liberais que respondam!
Relativamente à França, onde o governo mais impopular das últimas décadas promove uma guerra cultural e policial contra a população nativa para impor uma agenda que ela rejeita em massa (coisa que Assad nunca fez), não haverá esse tipo de embaraço, afinal, o parlamento está muito mais bem controlado e o governo francês não se preocupa com esse tipo de formalidades. A verdade é que o governo francês já está em guerra, não declarada, com a Síria, como provou a captura de comandos franceses pelas forças sírias no ano passado, notícia omitida dos grandes media, detalhe volta a nos remeter à falácia da teoria liberal da independência dos poderes e da suposta liberdade de imprensa. Como é possível que tudo isso aconteça e ninguém seja responsabilizado? Para nós, acostumados à política portuguesa (brasileira também, no meu caso), não é difícil responder a questão, mas apenas se quisermos chegar à verdade ao invés de agradar a audiência com um discurso iluminista.
Mas voltemos ao Reino Unido. A derrota da proposta de agressão do senhor Cameron foi determinada por uma diferença de 12 votos num universo de 558 (285 x 273), o que nos serve de termómetro do distanciamento entre os interesses dos "representados" e os interesses dos "representantes". Uma sondagem recente, que pode ser vista num dos endereços que disponibilizarei abaixo, mostrou que apenas 8% dos britânicos são favoráveis à agressão contra os sírios. Porém, se tivermos em conta que a mentira foi percebida por quase todos e que estamos a falar de um movimento que pode despoletar uma guerra mundial, afinal, Putin traçou uma linha vermelha e sabemos que os russos têm uma frota na Síria e, segundo algumas fontes, cerca de 100 mil soldados (comprovei com um grau de certeza aceitável a presença de 200 Spetnaz), podemos ter uma ideia da grande mentira que é a democracia britânica pois em temas mais ligeiros, que não implicam um risco dessa ordem, é de se esperar que os "representantes" sejam mais unânimes em relação à agenda. Bastará olhar para o histórico das votações passadas, especialmente no que toca a questões de policiamento interno, cedência de soberania e imposição da agenda politicamente correcta, para verificarmos a unanimidade existente ali, disfarçada apenas pela retórica artificiosa e por diversas tácticas políticas baseadas na dialéctica.
Para terminar, lembro que os líderes do Ocidente tentam justificar a agressão contra a Síria com a desculpa de um ataque com armas químicas que agora sabemos que foi organizado pelos mesmos, e já não é a primeira vez que o fazem. Isso os coloca numa posição incómoda pois, se o mesmo raciocínio vale para eles, temos aqui um Casus Belli legítimo pois a autoria desse atentado leva-nos à várias capitais ocidentais. Deixo-vos agora com algumas sugestões de leitura:
Excelente análise.
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