Tudo tão bonito. As avózinhas se encantam...
O formalismo ao qual fomos condicionados por séculos de burocratização funciona como um véu que nos impede de compreender o "enigma" do poder, apesar dos instintos contradizerem constantemente, quando somos confrontados com uma situação prática que nos afecta, o que aprendemos por repetição. Em teoria, os reis das monarquias liberais não têm nenhum poder, mas a verdade é que têm mais poder do que qualquer soberano em qualquer monarquia dicta absoluta. A diferença é que, ao contrário dos reis nas tais monarquias absolutas, onde os reis, em teoria, eram poderosos, mas na práctica eram limitados por inúmeros poderes que ninguém, ou nenhum grupo, poderia controlar, os reis das monarquias liberais, ao menos naquelas que "sobreviveram", ou seja, onde se associaram à oligarquia que as impôs a ferro e fogo com exércitos mercenários, possuem muito pouco poder do ponto de vista formal, mas detém redes de influência e abundantes recursos que os permitem determinar subrepticiamente os rumos de um estado quase omnipresente, omnisapiente e omnipotente. Ainda assim, apesar dos poucos poderes formais, esses reis oligarcas (BP, Shell, Cintra Concessiones, Wallenberg,...) podem muito bem fazer a diferença em certos momentos, como poderia ter feito o "rei" dos belgas a propósito da aprovação da eutanásia para crianças, mas jamais o fazem. Cabe a nós especular e perguntar a razão disso. Se não o fazem por medo, então são covardes que por conveniência, ou seja, apenas para manter a coroa, assinam leis ilegítimas, ou melhor, criminosas, e se a razão não é o medo, então é porque estão de acordo. As presenças dessas figuras nos conclaves da oligarquia transnacional, como o que recentemente aconteceu na Dinamarca e contou com o Sr. Balsemão Camarate, com o ministro Paulo Mandado e a irmã da atriz que apareceu num filme do Tarantino, não deixa dúvida a respeito do assunto.
Agora, passemos à abdicação do João Carlos de Espanha. Como sabemos, de austera a monarquia espanhola nada tem. Só quando fazemos comparações dos gastos oficiais com as mais descaradas repúblicas de ladrões é que ficamos com a impressão de que estamos diante de algo exemplar, o que nos dá um indício do avançado grau de decadência e ingenuidade do mundo ocidental. O comportamento do ocupante do trono espanhol, que há alguns meses, no meio de uma crise sem precendentes, resolveu fazer uma viagem secreta com uma amiguinha e dar uns tiros num elefante, feito ao alcance de qualquer ancião rico capaz de mover o indicador, ainda que para isso precise de um comprimido vasodilatador (já lá vão os tempos em que Assurbanipal caçava leões que aterrorizavam os súbditos a cavalo e de lança...), só veio expor o que todos, menos os leitores de Caras e Hola, sabem, e não é por acaso que cada vez mais há menos espanhóis que acreditam na actual monarquia. Diante de tal facto, nada como uma pequena operação de imagem inspirada no exemplo papal. Tudo vai continuar na mesma, mas o povo vai se distrair com as cerimónias oficiais e com conversinhas de chá e bolachinhas diet veiculadas pelos media. E assim se ganha tempo.
O mais importante, entretanto, é aumentar a intensidade das ameaças que rondam Espanha de modo a tornar o rei, na percepção popular, indispensável. Nada como um aumento da retórica anti-cristã e separatista, de preferência com umas igrejas queimadas, uns atentados do ETA (mas serviria a tal "alcaida") e ameaças de morte contra o novo rei - melhor ainda se houver um golpe de militares radicais, logicamente concebido para falhar - para fazê-lo sair de tudo isso como um herói. Daqui a algumas décadas, podem ter a certeza, dirão todos os jornalistas e palpiteiros que Felipe, num momento de extrema fragilidade do trono espanhol em que o próprio futuro da nação estava em causa, provou pela sua acção que é um grande estadista. Agora deixo cá duas recomendações de leitura a propósito do tema:
Isto que o tal de Felipe VI é ''casado'' com uma ''divorciada''.
ResponderEliminarQue exemplo de catolicidade!