Diante do interesse
acrescido a respeito de quem sou, penso ser necessário prestar alguns
esclarecimentos pessoais, e explicar os objectivos do projecto Prometheo. Em
primeiro lugar, farei uma pequena introducção biográfica, mas não sei antes
fazer uma observação a respeito da ortografia que uso (e do acordo ortográfico). Uso a ortografia que
considero mais bela, e essa ortografia não segue nenhuma ortografia oficial. Se
fosse obrigado a usar a ortografia consagrada no novo acordo ortográfico, o que
aconteceria se escrevesse num jornal ou lançasse um livro, não teria problemas
em fazê-lo. Considero as lutas em torno do acordo ortográfico uma perda de
tempo e tenho mais o que fazer.
Quanto a mim, me formei
em História na Universidade de Coimbra, onde fui próximo de muitos indivíduos
que mais tarde teriam posições de relevo na Assembleia da República, em
Portugal, e na academia, terminando o curso com uma tese sobre imigração,
agricultura e industrialização no Brasil,
que escrevi ao mesmo tempo em que fui investigador e dei aulas no finado
Instituto de História da Ciência e da Técnica da mesma instituição. No ano a
seguir, em 2002, fiz uma pós-graduação em Estudos Europeus pela Universidade de
Siena sobre a Organização Comum de Mercado do Açúcar na Europa, passando alguns
meses na Universidade de Salamanca e na Universidade de Estrasburgo, onde pude
contactar vários deputados durante as sessões locais do Parlamento Europeu, e
tive por colegas vários indivíduos que agora trabalham para a União Europeia.
Mais tarde, em 2005, comecei
um mestrado, que tinha intenção de converter em doutoramento, a respeito das
Cortes de Lisboa de 1821, na Universidade do Porto, mas deixei isso de lado
quando senti que a resistência às conclusões a que chegava seriam enormes. Perdi
o interesse pela academia e decidi buscar a fortuna de modo a poder, um dia,
fazer as minhas investigações, contratando e minha própria equipe, mas até hoje
não fiz a tal fortuna. Sou independente e tenho o meu negócio. Graças a isso refinei
o meu conhecimento da economia, conhecimento que, a par da História, busquei
desde cedo.
Me envolvi em várias
iniciativas políticas, mas rapidamente me desliguei delas. A busca da verdade
me incompatilizava com o espírito de facção. Depois de anos
defendendo os princípios da monarquia
tradicional ibérica, hoje sou um republicano, mas um republicano bem diverso do
que anda por aí. Creio em mudanças graduais e retenho do princípio da divisão
de poderes apenas a ideia de divisão dos poderes, abandonando a ideia de
tripartição, simplificação teórica que, por ter sido levada às últimas
consequências, nos trouxe grandes problemas. Guardo do foralismo o princípio
municipalista e uma ideia próxima do que seria uma espécie de federação de
municípios.
Quanto aos partidos,
creio que, num quadro de centralismo como aquele em que vivemos, são um perigo
pois, através de uma noção de representatividade corrompida pelo sistema
eleitoral, são facilmente instrumentalizáveis pelos interesses capazes de agir em
âmbito nacional e de buscarem apoios no exterior. Quanto às ideologias, posso,
no máximo, concordar com pontos isolados delas, mas não compro nenhum “pack
completo”. As considero palas que reduzem a perspectiva. Estou disposto a trabalhar com qualquer grupo
em causas isoladas, e nada mais.
No fundo, estou aos
poucos me transformando num historiador, e quem persegue o caminho da História
chega, mais dia ou menos dia, se for inteligente e honesto, a uma espécie de
pragmatismo bem fundamentado que se distancia e ri de todas as quimeras criadas
pelos filósofos. O projecto Prometheo
pode ser explicado por aí, mas convém lembrar que para além do fundamento
histórico, há ainda a perspectiva geopolítica (onde me assumo como um realista),
que me impede de isolar as questões políticas num contexto nacional, e um
sentimento patriótico que não se esgota em fronteiras ou estados criados ao
acaso, por meros acidentes. Enxergo um potencial imenso no triângulo Portugal – Brasil – Angola, sem ter ideias
fixas sobre como organizar uma comunhão de interesses desses estados, para além dos outros que fazem parte da esfera lusófona Acima de
tudo, creio que não vale a pena forçar a história, ou se fechar a qualquer
possibilidade, incluindo nisso o mundo “hispânico” e latino.
Acima de tudo, espero
acabar os meus dias em paz, contente com o estado do meu povo e num lugar onde
falam a minha língua. Como gosto de climas quentes, mas secos, e de muita luz,
posso até dizer onde gostaria de passar a velhice: na Ilha do Sal, em Cabo
Verde.