O agente barrigudo desapareceu das ruas e foi substituído por jovens em (aparente) boa forma física, os carros são bons, o leque de armas disponíveis inclui, não só a singela pistola da praxe, mas também caçadeiras e metralhadoras automáticas. Mesmo os polícias de trânsito, para além da arma de fogo, portam gás-pimenta. O corpo de intervenção veste-se à robocop e o porte e uso do taser é legal. Os sindicatos da polícia também e longe vão os tempos em que exigir uma folga semanal e pagamento de horas extraordinárias implicava ser agredido, a mando do governo, pelos próprios colegas.
Contudo, melhores viaturas, equipamento e formação policial não intimidam o criminoso. Dando a cidade de Lisboa como exemplo, parece que a polícia local, ao contrário dos restantes mortais que lá têm o azar de viver e trabalhar, não conhece os estabelecimentos onde se vende droga, de porta aberta, à luz do dia: em ruas movimentadas, nas quais há trânsito, comércio, turistas, escolas, farmácias, paragens de autocarros e hostels.
Zonas como a Praça da Figueira, são espécies de mercado ambulante de haxixe, coca e porcarias semelhantes. Quando, em algum telejornal, ouço falar de uma apreensão de droga e detenção de traficantes, interrogo-me sempre por que nunca são os detidos os conhecidos traficantes e vigias da Rua Maria Pia, ou da Rua dos Cavaleiros, que por lá ficam todos os dias do ano, à porta dos seus cafés e restaurantes de fachada, dos quais entram e saem viciados de forma constante. Nenhum taxista ignora o que irá fazer um cliente que lhe peça para "ir à Meia Laranja, esperar só um bocadinho e regressar": comprar droga. Pelo contrário, os ingénuos agentes da PSP parecem ignorar que tal coisa exista. Acredito que deve ser mais fácil apreender droga vendida por um comercial não-autorizado, do que invadir e encerrar de uma vez por todas as famosas casas de droga dos antigos barões do demolido Casal Ventoso.
Do Rossio ao Castelo, palmam-se carteiras como se não houvesse amanhã. Os carteiristas são autênticas figuras públicas nos bairros e ruas onde exercem a actividade; com excepção dos infelizes turistas que caem de paráquedas na capital portuguesa, todos os conhecem pela função social amiga do alheio que ocupam. Não roubam e fogem num momento de sorte e oportunidade, roubam e permanecem na sua zona diariamente, cumprindo um horário laboral, como se praticassem uma profissão a sério, ao ponto das suas caras serem tão familares como a do padeiro ou do talhante lá do sítio
A polícia, supostamente, não existe para aterrorizar o cidadão e trabalhador comum. Mas enquanto o criminoso vive cada vez melhor e mais livre, o mesmo não se pode dizer do automobilista ou da vendedora de castanhas. Para estes, os agentes policiais são implacáveis, brutos e malcriados. Com tanto bandido, traficante e proxeneta à solta em Lisboa, a fúria policial descarrega-se diariamente em criminosos ambientais que tenham o atrevimento de circular numa avenida de gente fina ao volante de um carro com mais de 15 anos. Para cúmulo, parece que o governo quer premiar menos os polícias em salários e férias, e mais pelo dinheiro que cobram ao cidadão. A caça às bruxas vai continuar. Por exemplo, sabe que, legalmente, os pneus do seu carro têm data de validade? A Polícia, que desconhece o que se trafica na Mouraria, certamente sabe. Sabe destas e de muitas outras ninharias. Tenha medo.
*Ao relatar há tempos as ameaças e insultos que me dirigiu um polícia por causa de um "crime" rodoviário que nem sequer cometi, perguntava-me alguém se essa atitude não seriam vestígios de um certo tipo de polícia do antigamente. Penso que não. O polícia era demasiado jovem para ter sofrido influências do malvado "fascismo", além de que nos tempos ditos da "outra senhora", os polícias eram bem vistos e estimados pela população, como documenta a imagem abaixo.
*Ao relatar há tempos as ameaças e insultos que me dirigiu um polícia por causa de um "crime" rodoviário que nem sequer cometi, perguntava-me alguém se essa atitude não seriam vestígios de um certo tipo de polícia do antigamente. Penso que não. O polícia era demasiado jovem para ter sofrido influências do malvado "fascismo", além de que nos tempos ditos da "outra senhora", os polícias eram bem vistos e estimados pela população, como documenta a imagem abaixo.
A tradição do Natal do Polícia Sinaleiro. O povo ofertava comida e bebida ao agente de trânsito da sua rua, acabando estas por serem partilhadas com os seus amigos e vizinhos mais pobres. |
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