segunda-feira, 27 de abril de 2015

A irrelevância do liberaloidismo dicto monárquico demonstrada pelos próprios.


 Tivéssemos hoje um rei da grandeza de Dom Carlos, 
provavelmente ele teria conseguido um autógrafo do Michael Jackson!

Acabo de ler um artigo escrito por um liberalóide cujo conteúdo, ou falta dele, é bastante revelador do que foi na práctica o tal modelo de monarquia que a maçonaria considera aceitável:



Pelo título, que dá a entender que estamos diante de um Dom João IV ou até mesmo um Dom João II (rei português que marcou o país e o mundo), percebemos que se trata de um texto que não deve ser levado a sério. Se Dom Carlos marcou o país e o mundo, como descrever Cecil Rhodes (lembram do Mapa cor-de-rosa?) ou Bismarck?

Numa história do período, Portugal é secundário, uma espécie de Turquia diminuída e ainda por cima marginal, como ficou mais do que claro na Conferência de Berlim ou no famoso episódio do Ultimato Inglês, que demonstrou materialmente que éramos tão ou mais desprezados pelos aliados do que pelos rivais. Como chegamos a tal? Graças ao liberalismo monárquico, e os factos e números não mentem.



E vale a pena pensar, antes de prosseguirmos na análise dessa peça ridícula de propaganda enganosa, de que valeu todo o lambe-botismo anglófilo monárquico-constitucional, no que tiramos de tudo isso e o que a própria monarquia, ainda que agisse contra Portugal por interesses meramente egoístas, ganhou. Há alguns anos, surgiu um livro que rapidamente saiu de circulação e nunca foi reeditado, que demonstra documentalmente o que qualquer tipo com inteligência e alguns anos de estudo conclui após analisar o período: 

Recomendo a leitura do livro. É um bom antídoto contra as mentiras espalhadas pelos maltezes e mendos da vida. Agora voltemos à peça de propaganda. Segundo o propagandista, Dom Carlos foi um oceanógrafo e um pintor de sucesso, e revelou tais dotes em idade precoce. Sugiro a todos que procurem por artigos científicos a respeito da actividade oceanográfica de Dom Carlos nos meios mais respeitados da área ou que investiguem os valores atingidos pelas pinturas de Dom Carlos nos leilões de arte. Tais afirmações são simplesmente ridículas, dignas de um fanfarrão!

Mas ao menos ficamos a saber de um grande feito de Dom Carlos, que foi ter conseguido, numa "paragem estratégica em Lisboa" do navio que transportava Júlio Verne, que Embora a sua permanência na capital portuguesa tenha sido de curta duração, ainda marcou presença no Paço Real da Ajuda. Ali, D. Carlos e Julio Verne conversaram durante algum tempo (presumindo-se que entre os assuntos discutidos possam ter falado sobre o mar e pintura).

Pois bem, ficamos a saber que Dom Carlos, (para os liberais, possivelmente o Grande), conseguiu a atenção de Júlio Verne durante algumas horas quando este teve de parar em Lisboa. Eu, que não sou rei, já estive com o Peter o'Toole e o Giancarlo Giannini!

6 comentários:

  1. Caro Velasco,

    Não posso deixar de concordar com a análise política do regime monárquico constitucional, mas ressalvo a necessidade de alguma reflexão sobre o seu papel científico e diplomático.
    Sobre o primeiro, há um artigo bastante esclarecedor na net que vale a pena ler:
    http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/e78.html

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    1. Manuel, vale a pena fazer a ressalva, para que fique claro que Dom Carlos, com o qual até simpatizo, estava longe de ser um energúmeno e era um homem com uma formação que hoje seria julgada extraordinária. Porém, quem dá a entender que ele foi um cientista de primeira e um artista de sucesso mente. Foi um homem que cultivou a pintura e a ciência, mas não era um cientista ou um artista, e nem poderia ser, afinal, era rei.

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  2. Acho que podemos considerar Dom Carlos como um dos soberanos mais notáveis e mais responsáveis da última metade do século XIX e representa, a par de Pedro II do Brasil, de Francisco José da Áustria, Alexandre III da Rússia, o melhor que as monarquias ocidentais e as famílias reais tinham para oferecer na altura. Se isso não é grande incentivo à admiração, deve-se às falhas humanas destes homens e, claro, às circunstâncias políticas que, especialmente no caso de Carlos de Portugal, comprometiam o seu trabalho.
    No final de contas, quem premiu aquele gatilho não foi o Buíça, mas o primeiro Imperador do Brasil. Uma bala produzida por um passado de traição e que imputou ao mais inocente a pena de um crime que o ultrapassava.

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    1. E mesmo assim, falhou, ou melhor, não o deixaram triumphar. Isso diz muito a respeito do que foi a monarquia constitucional. Faço mais um lembrete. Há uns tempos, numa conversa com o Nuno Castelo Branco, ele me passou um material interessante a respeito dos planos de Dom Carlos de criação de uma zona de livre-comércio entre Portugal e seus territórios extra-europeus e o Brasil, projecto cujo impacto na história do século XX seria, ouso dizer, mais significativo do que a criação da Zollverein em 1834.

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  3. Amigo Carlos Velasco é Verdade : Já falaste com Peter O ´toole ?

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  4. Caro Luiz,

    Até gostava de ter falado com ele, mas nesse caso, só "estive" com ele. Te conto. O vi num bar que costumava frequentar, há quase dez anos, e nesse dia havia um concerto por lá. Ninguém o reconheceu, mas eu vi logo que estava ali o "Lawrence da Arábia", acompanhado. Não podia deixar de olhar para ele com um certo brilho nos olhos. Ele, que olhava para as pessoas sem grande interesse, acabou fixando o olhar no meu, e ele soube logo que o reconheci. Fiz um brinde a ele e pisquei o olho, e ele sorriu e fez um gesto de agradecimento com a cabeça por eu ter sido discreto e não ter ido lá chateá-lo com pedidos de autógrafos e fotografias. Aqui em Portugal o pessoal costuma se comportar assim. Só os artistas juvenis é que sofrem por causa dos adolescentes, que foram estupidificados por cá como em toda a parte. Por causa disso, é muito habitual encontrar personalidades aqui em Portugal.

    Um abraço.

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