Brasil: Nós avisamos!

Recordam as manifestações de 2013? Aquilo foi apenas um ensaio...

Lembram como começou a crise política brasileira? Ao som de panelas e gritos de "vai tomar no c...", o que não por acaso é a marca registrada de um certo "filósofo" de direita, velho conhecido dos leitores do Prometheo. Por aqui, não faltaram advertências em relação aos perigos da escalada que então começava. Apesar da oposição do blogue Prometheo às presidências do PT, identificamos desde cedo o verdadeiro objectivo da crescente e súbita onda de oposição: polarizar e desestabilizar o Brasil, tornando-o ainda mais subserviente aos grandes poderes que disputam o mundo. Alertamos até para o perigo de uma guerra civil e para uma possível "congolização". Os panelaços aconteceram, as manifestações aumentaram de intensidade e o impeachment de Dilma Roussef foi aprovado no legislativo.

Um governo fraco, ou melhor, politicamente morto e em fase final do mandato, portanto, sem possibilidade de oferecer qualquer tipo de perigo e facilmente pressionável, o que até poderia abrir espaço para mudanças positivas, foi derrubado quando a continuação do mesmo era a garantia de que o PT não voltaria ao poder, e de que a oposição teria tempo para formular uma alternativa séria para concorrer nas eleições presidenciais. O avanço das investigações da Lava Jato, apesar da conducta parcial do juiz Moro, um cooptado do Departamento de Estado americano, permitiria aos direitistas que se fizesse uma depuração dos nomes cogitados para as futuras presidenciais, excluindo os nomes sujos. O PT sofreria uma derrota da qual dificilmente se recuperaria e a estabilidade política estaria  assegurada. Mas esta nunca foi a intenção. Graças aos Reinaldos, Pondés, Alexandres Frotas, Olavos, Kid Bengalas, Reinaldos, Mainardis, MBLs e Revoltados, entre outros, o Brasil agora tem um governo ainda mais desgastado que o anterior e sem qualquer aparência de legitimidade, que pode cair a qualquer momento e presentear a presidência para Lula. Temos uma "crise perfeita" instalada no Brasil.


A esquerda volta a ganhar terreno por causa do desgaste da direita, que continuará com o agravar da crise económica, e os temores desta só tendem a aumentar com o crescimento da incerteza sobre o futuro (incerteza que em Portugal se percebe graças aos números de ricos brasileiros que cá se instalaram nos últimos dois anos), da desorientação em relação ao presente e da crescente agressividade de uma esquerda convicta de que foi injustiçada, não sem alguma razão, e segura de que vencerá as próximas eleições. Notícias se sucedem numa velocidade que torna impossível ao homem comum, incapaz de compreender a política desde uma perspectiva elevada mesmo em tempos menos conturbados, perceber um mínimo da realidade, e os jornalistas, opinadores profissionais e gurus fazem a sua parte, fornecendo versões parciais da realidade utilizando toda a informação conveniente como arma de arremesso contra as facções contrárias, à esquerda e à direita. No meio da desorientação, a única coisa que resta para dar direcção e algum conforto ao homem comum é a ideologia. Traduzindo: haverá mais polarização e o Brasil está encerrado num ciclo vicioso que levará à fractura.

Tudo isso era previsível e sabido dos que criaram e financiaram o movimento do impeachment, gente poderosa cujas redes e interesses cobrem todo o mundo. Para reforçar os piores prognósticos, ontem ficamos a saber que o "filósofo" Olavo de Carvalho, até agora ausente das televisões em rede aberta, será entrevistado num programa apresentado pelo palhaço Danilo Gentili. A entrevista será focada no episódio insignificante, mas politicamente explosivo, da recusa de vários directores esquerdistas em participar num festival de cinema sem importância ao lado do filme de exaltação do Olavo de Carvalho. Isto é claramente uma acção incendiária, mas não é a única. O descaramento chegou a tal ponto que um dos membros do MBL, por exemplo, se especializou em partilhar vídeos de intervenções em manifestações da esquerda. Será difícil imaginar que a intenção de quem promove essa besta é que ocorra uma tragédia que possa ser prontamente explorada? 

Infelizmente, me parece que a armadilha que prepararam para o Brasil irá funcionar, e que mais uma vez estivemos correctos. Só nos resta o consolo de poder dizer que nós avisamos.