Muito escrevi aqui, e noutros
meios, a respeito da armadilha que nos tinham preparado. Infelizmente, não se
evitou a armadilha e, o que poderia ter sido uma oportunidade, e possivelmente tenha sido a última
oportunidade para se resgatar a soberania contando apenas com as próprias
forças, ainda que num cenário internacional favorável (o fim da hegemonia “Ocidental”),
foi um gigantesco passo para o fim de
Portugal.
Depois da falsa austeridade
passista, Portugal entrou num novo “socratismo”, repetindo o movimento
dialéctico que tem nos conduzido ao abismo: um governo de falsa austeridade à
direita mantém a estrutura burocrática que esmaga a iniciativa dos nacionais
para além de os sobrecarregar com mais impostos, sob a desculpa do combate ao
défice, que diminui mas não ao ponto de inverter a trajectória a longo prazo da
dívida, e é seguido por um governo de esquerda que “abre a bolsa”, ou melhor, que
aproveita a disponibilidade dos bancos para voltar a acelerar o aumento do
nosso endividamento com gastos “políticos” num momento de euforia criado por um
crescimento medíocre puxado pelas condições favoráveis do crédito externo.
Todos os partidos, diga-se de passagem, são culpados, ainda que tenha de
admitir que o menos culpado é o PCP, que ao menos ainda dispara contra a
pertença ao euro e contra o desmantelamento de ramos inteiros da economia.
Ainda assim, apesar de toda a
maquilhagem permitida por uma bolha especulativa incitada pelos mesmos gruposque anteriormente fizeram o mesmo, deixando bancos falidos pelo caminho e uma
conta enorme para o contribuinte, mas criando mais umas boas centenas de
milionários que vivem dessa forma “sofisticada” de parasitismo e mais nada
fazem do que investir em renda e consumo perdulário (o senhor Robles é um
deles), os sinais da decadência estão por toda a parte. Vivo em Portugal há
duas décadas e nunca vi os transportes ferroviários em estado tão precário, as
pontes tão descuidadas, a limpeza tão desleixada e os hospitais tão caóticos. Quando
cheguei, muito do material era antigo, mas a manutenção, no geral, era melhor. Para
se manter um número de funcionários públicos bem acima das necessidades da
nação, mas que constitui uma clientela fundamental para o regime, e os
pagamentos de juros sobre uma dívida que é, para sermos explícitos, a Raison d'État do actual regime, para
além dos empregos para alguns milhares de boys e os negócios obscuros com
dinheiro público que alimentam tantas “empresas” que vivem das conexões
políticas, há de se cortar em algum lado, e o tal “lado” é nada mais do que os
gastos que em primeiro lugar justificaram a existência dos impostos, a começar
pela infra-estrutura nacional de transporte!
Enquanto isso, cedemos direitos
sobre a exploração dos recursos nacionais, se fecham estaleiros e fábricas e
sectores até agora protegidos pelo desinteresse estrangeiro vão sendo dominados
pelas grandes corporações internacionais. Basta olhar para as placas de
vende-se no Porto e em Lisboa para comprovar essa nova realidade que aos poucos
vai transformando o país inteiro numa cópia daquilo que até agora era o Algarve:
uma colónia estrangeira onde os nativos não passam de uma curiosidade
sociológica, senão um anacronismo a ser substituído pela imigração de genteainda mais miserável e disposta a viver em cubículos e a aceitar empregosprecários e mal pagos, como são os empregos criados pelo turismo.
E, pela primeira vez na nossa
história, o número de nascimentos, e neles se incluem nascimentos de imigrantes
cá instalados, é menor que o número de saídas. E a vontade do actual governo,
com apoio da “oposição”, de inundar Portugal com mão-de-obra barata, afinal ,
como já escrevi, é essa a mão-de-obra da qual o turismo e o sector imobiliário
precisam, torna tudo ainda mais grave.
Bastará que chegue uma nova crise financeira internacional para que a
bolha portuguesa rebente e o nosso estado seja obrigado, novamente, a pedir
ajuda, para que os passos finais sejam dados. Merkel dificilmente perderá a
oportunidade para finalmente impor a Portugal a “solidariedade” em relação à
recepção de “refugiados” e já se fala que Portugal deverá aceitar 75 mil “refugiados”por ano...
E agora, é possível fazer alguma
coisa?
Na minha perspectiva, parece que não e estamos à mercê de forças exteriores.
Quando ainda era possível, pouco antes da última intervenção financeira que
levou ao protectorado sob a Troika, os media locais conseguiram abafar
qualquer discussão em torno daquilo que era urgente discutir, a pertença ao
euro, pois foi isso o que nos trouxe ao descalabro e nos levará à ruína total e
ao fim. Fora do euro jamais chegaríamos ao estado em que estamos pois a nossa
capacidade de endividamento seria limitada pelo risco cambial. Dentro do euro,
os investidores na nossa dívida estão protegidos da possibilidade de
desvalorização e também da moratória, e eles sabem que as dívidas de estados
como Portugal serão saudadas pela União Europeia pois este é um dos pretextos
que ela usa para aumentar os seus poderes. Não fosse assim, jamais a União
Europeia teria permitido que os Critérios de Maastricht fossem quebrados, e
eles foram quebrados em primeiro lugar, é bom lembrar, pela França e pela Alemanha. O socratismo
só foi possível graças à permissão e ao estímulo de Berlim, de Paris e de Bruxelas!
Da minha parte, folgo em saber
que tentei fazer algo. Cheguei a contactar gente que se afirmou entusiasmada,
mas logo desistiu da ideia quando se apercebeu que tal iniciativa seria alvo de
uma violenta campanha da parte de todos os partidos, com excepção do PCP, e dos
media. Um desses tipos, economista conhecido, foi há pouco tempo processado pelo
putedo do Bloco de Esquerda. Mereceu. É assim que acabam os pusilâmines.
Não é num país esvaziado do seu
sangue mais activo, envelhecido e desorientado, ainda por cima sem elites inteligentes
e não alinhadas, que se vai fazer alguma coisa, e a oposição que vejo por aí
está completamente às cegas, invertendo prioridades, sendo pautada pelos media
corporativos e, pior ainda, defendendo anacronismos que só afastarão as pessoas
saudáveis de qualquer via alternativa.
Falta-nos gente com dinheiro e
talento, capaz de compreender o que está em jogo e corajosa o suficiente para
aguentar a pressão psicológica pois entre os que não têm recursos há talento,
coragem e disposição. Darei uma ideia do quanto seria necessário
reunir para lançar um campanha bem sucedida pela saída do euro, que
apresentasse um plano viável de forma compreensível e fizesse o tema
entrar na pauta de debates e despoletasse um movimento político apartidário com
um objectivo único, mas do qual depende qualquer outro passo na direcção da
nossa restauração, a saída do euro: 75 mil euros!
Sim, por muito menos do que
certos imbecis pagam num Porsche, replicando o comportamento dos iletrados do mundo
da bola, é possível lutar com eficácia para salvar o que resta de Portugal. Isso dá uma dimensão da insignificância da nossa "elite", ou melhor, da nossa classe endinheirada. Nosso povo pode ser bruto, e todos gozamos com
o aveque e o seu complexo de inferioridade mal disfarçado, mas ele mais não faz do que imitar o exemplo de subserviência ao estrangeiro que vem de cima. Nada é
mais aveque do que a “elite” de Lisboa, Cascais e da Boavista. Acham que exagero? Então
pensem no Macelinho, que nem é dos piores...