quinta-feira, 22 de junho de 2017

Portugal: vítima sacrificial de imolação pelo fogo

Não parece, mas a conta da Portucel é mais alta que a da EDP.


O melhor material que li a respeito dos incêndios foi uma antiga entrevista concedida por Gonçalo Ribeiro Telles, que transcende o mero futebolismo político que predomina por nos media para as massas. Passados tantos anos após a entrevista, e passadas tantas décadas de desastres que mostram que, mesmo com um sistema eficaz de controlo florestal, jamais evitaremos tragédias debaixo do actual modelo de ordenamento territorial, e que um sistema eficaz é uma ilusão sob o actual regime, fica a pergunta: quem ganha com isso?

Economicamente, podemos traduzir a situação em que vivemos da seguinte forma: estímulos estatais foram dados ao plantio de pinheiros e eucaliptos, plantações em que Portugal não é competitivo, de forma a se beneficiar algumas grandes empresas dependentes dessas matérias. Ou seja, a falta de competitividade acaba por ser compensada com subsídios.

E que estímulos foram esses, já que os subsídios directos foram poucos? Gastos imensos com um modelo que provou ser falho (e que um estado falho ainda consegue piorar), dezenas de milhares de propriedades destruídas, fauna e flora aniquilada, regiões inteiras desertificadas e vidas humanas ceifadas. O problema só tende piorar à medida que o tempo passa e já há muito constitui uma questão de segurança nacional (especialmente à medida que o quadro geopolítico deteriora).

Sendo assim, continuaremos a subsidiar empresas como a Portucel com a destruição não apenas da economia nacional, em favor de uns poucos, mas também da própria viabilidade do país? E o que poderá isso vir a acarretar para a própria soberania, ainda mais quando somos parte de um império burocrático que usa todo o tipo de problemas para aumentar os poderes de Bruxelas e o nosso estado prova repetidamente a sua incompetência? Só as emissões de carbono já dariam um óptimo pretexto para se aumentar ainda mais a sujeição de Portugal, que, sinto vos dizer, estará completa quando a actual bolha imobiliária rebentar, o que provavelmente coincidirá com uma nova crise económica internacional. Alguém acredita que estamos melhor agora do que antes da intervenção da Troika? Nossa dívida aumentou em relação ao PIB, aumentou a nossa dependências do capital estrangeiro e já não temos tantas garantias para dar.

Infelizmente, o que se passa aqui é uma repetição do que é feito em Portugal em todos os sectores em que os grandes grupos, que mantém uma influência determinante nos partidos, conseguiram criar monopólios. A bem da verdade, a única diferença entre a Portucel e a EDP é que o tributo que pagamos à Portucel também inclui sangue, ou, para ser mais exacto, imolações pelo fogo. E assim se garantem boas colheitas de lucro para os accionistas...



1 comentário: