Não parece, mas a conta da Portucel é mais alta que a da EDP.
O melhor material que li a respeito dos incêndios foi uma antiga entrevista concedida por Gonçalo Ribeiro Telles,
que transcende o mero futebolismo político que predomina por nos media
para as massas. Passados tantos anos após a entrevista, e passadas
tantas décadas de desastres que mostram que, mesmo com um sistema eficaz
de controlo florestal, jamais evitaremos tragédias debaixo do actual
modelo de ordenamento territorial, e que um sistema eficaz é uma ilusão
sob o actual regime, fica a pergunta: quem ganha com isso?
Economicamente,
podemos traduzir a situação em que vivemos da seguinte forma: estímulos
estatais foram dados ao plantio de pinheiros e eucaliptos, plantações
em que Portugal não é competitivo, de forma a se beneficiar algumas
grandes empresas dependentes dessas matérias. Ou seja, a falta de
competitividade acaba por ser compensada com subsídios.
E
que estímulos foram esses, já que os subsídios directos foram poucos?
Gastos imensos com um modelo que provou ser falho (e que um estado falho
ainda consegue piorar), dezenas de milhares de propriedades destruídas,
fauna e flora aniquilada, regiões inteiras desertificadas e vidas
humanas ceifadas. O problema só tende piorar à medida que o tempo passa e
já há muito constitui uma questão de segurança nacional (especialmente à
medida que o quadro geopolítico deteriora).
Sendo
assim, continuaremos a subsidiar empresas como a Portucel com a
destruição não apenas da economia nacional, em favor de uns poucos, mas
também da própria viabilidade do país? E o que poderá isso vir a
acarretar para a própria soberania, ainda mais quando somos parte de um
império burocrático que usa todo o tipo de problemas para aumentar os
poderes de Bruxelas e o nosso estado prova repetidamente a sua
incompetência? Só as emissões de carbono já dariam um óptimo pretexto
para se aumentar ainda mais a sujeição de Portugal, que, sinto vos
dizer, estará completa quando a actual bolha imobiliária rebentar, o que
provavelmente coincidirá com uma nova crise económica internacional.
Alguém acredita que estamos melhor agora do que antes da intervenção da
Troika? Nossa dívida aumentou em relação ao PIB, aumentou a nossa
dependências do capital estrangeiro e já não temos tantas garantias para
dar.
Infelizmente,
o que se passa aqui é uma repetição do que é feito em Portugal em todos
os sectores em que os grandes grupos, que mantém uma influência
determinante nos partidos, conseguiram criar monopólios. A bem da
verdade, a única diferença entre a Portucel e a EDP é que o tributo que
pagamos à Portucel também inclui sangue, ou, para ser mais exacto,
imolações pelo fogo. E assim se garantem boas colheitas de lucro para os accionistas...
https://www.youtube.com/watch?v=iSOOfMdqmaw
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