O verdadeiro engodo

Em 2014, Angela Merkel, a chanceler alemã, foi "reeleita presidente do partido conservador" de seu país, a União Cristã-Democrata. 

Essa filiação política não impediu que ela fosse chamada, no final do ano seguinte, de "anjo protetor dos refugiados". 

Apesar disso, a  "nova direita" brasileira segue majoritariamente convicta de que a crise migratória e o risco de uma consequente aceleração no processo de islamização da Europa é culpa exclusiva da esquerda e seu multiculturalismo. 

E mesmo entre os que começam a acordar para a complexidade não binária do mundo real, a confusão continua a imperar. É o que acontece com André Assi Barreto, em seu "A crise européia dos 'refugiados' e a necessidade de uma direita forte e verdadeira", texto publicado no Mídia sem Máscara.

O artigo é basicamente uma crítica aos "conservadores" europeus e uma defesa do que escreve o sueco Daniel Friberg (foto abaixo) em seu "A verdadeira direita", livro traduzido por Barreto a ser publicado pela Editora Simonsen. 

Segundo resume o tradutor, Friberg defende, contra o atual conservadorismo europeu - ou a "falsa direita" -, uma "verdadeira direita" e que "o caminho para a" sua vitória seria "pela via de uma batalha no terreno da 'metapolítica'".

O que Barreto não diz, e me parece essencial para compreender exatamente o que o autor de fato tem em mente, é que o sueco é um dos fundadores da Arktos Media Ltd. A Arktos, por sua vez, é a casa publicadora de uma série de autores ligados à "Terceira Posição", à "Nova Direita" francesa e ao pensamento evoliano, como Alain de Benoist - que é anti-cristão e a favor da paganização da Europa -, Alexander Dugin e ninguém menos que Julius Evola.

Na realidade, como explica Friberg, foi do mesmo Evola que ele tomou o termo "verdadeira direita". E a "metapolítica", como pode ser verificado no mesmo link, nada mais é que uma junção da estratégia proposta pelo barão italiano com o modus operandi proposto por um seu compatriota de esquerda, Antonio Gramsci. 

Um autor com tais referências promovido nas páginas do neo-conservador Mídia sem Máscara, o panfleto oficial das olavettes?! 

Mais curioso ainda é que não vi, em nenhuma fonte que pesquisei, Friberg dizer absolutamente nada em favor do Cristianismo na recuperação da Europa. Muito pelo contrário, em seus "5 passos para se tornar um homem de verdade", extraído de um dos capítulos de seu livro, ele só expressa valores que, por mais nobres que sejam, são comungados pelo neopaganismo "cultural" de de Benoist.

A agenda do autor começa a ficar ainda mais clara quando atentamos para dois outros detalhes:

1. Segundo um dos leitores que deixaram comentários sobre a edição americana do livro, "entre as palavras que não aparecem nesse breve livro estão judeus, bancos, evolução, inteligência e educação". 

Winston Churchill e Charles de Gaulle não eram da "verdadeira direita" mas tinham, portanto, melhor noção da questão judaica na Europa (os judeus, aliás, são, como já demonstrei, segundo palavras de uma ativista judia, tão ou até mais responsáveis pela crise migratória quanto Angela Merkel) do que os "metapolíticos" dessa tal de "verdadeira direita".  

2. A Editora Simonsen, que pretende publicar o sueco no Brasil, também tem, entre seus títulos, "A Nova Guerra contra Israel", que teve seu lançamento no Clube Hebraica, em São Paulo.

3. Evola tornou-se favorável ao Cristianismo somente quando passou a considerar possível "paganizá-lo" e, apesar de se dizer anti-maçônico, não é verdade que a maçonaria, ao menos a francesa - e esse pode somente ser um de vários exemplos -, seja anti-evoliana, como atesta Patrick le Brun (e é bom lembrar que o maçom René Guénon chegou a se passar, sob o pseudônimo Le Sphinx, como um anti-maçom em uma revista "católica" pseudamente anti-maçônica). 

4. E quanto ao sistema financeiro?!

Abram os olhos para o conservadorismo, o neo-conservadorismo, o liberal-conservadorismo, mas também para essa tal de "verdadeira direita", pois parece não passar de mais um verdadeiro engodo.