Quem quer a guerra?

Quem manda nisso parece viver fora do Ocidente...

Dado o alerta pelo Caio Rossi, aproveito para tecer algumas palavras a respeito do que se passa na Síria. Em primeiro lugar, para evitar me repetir, peço aos leitores para que se informem a respeito do que temos escrito no post que segue abaixo:

A Armadilha Turco-Saudita e a Visita de Kissinger

 

Relativamente ao que se passa nos bastidores e aos prováveis desenvolvimentos futuros, mais não posso fazer do que especular, mas o farei a partir do conhecimento que possuo não apenas da distribuição do poder nos países envolvidos, mas sobretudo a partir do conhecimento que possuo da sua verdadeira força militar. 

No caso da Turquia e da Arábia Saudita intervierem em força, o que obviamente acontecerá apenas se estes países tiverem não apenas o apoio, mas sobretudo a ordem dos poderes que controlam a aliança militar que instrumentalizou o Ocidente em favor de objectivos opostos aos interesses dos seus povos, a Rússia será obrigada a recorrer a armas nucleares e lançará um ataque preventivo contra o Ocidente assim que tiver condições para tal, destruindo a capacidade militar dos EUA com armas nucleares e invadindo a Europa em força por terra. Para isso, precisará da garantia chinesa, e Putin, sabendo que uma derrota no campo externo abrirá as portas para uma revolução na própria Rússia, subordinando-a por completo aos interesses da elite internacionalista, não hesitará em ceder o que for necessário à China para ganhar não apenas a sua neutralidade ou o seu apoio militar, mas sobretudo para ganhar algum tempo. Não estranharia se houvesse uma cedência de territórios orientais à China, o que não deixaria de dirigir as forças da mesma ainda mais em direcção ao Pacífico do que para Oeste.

A opção de fazer uma guerra convencional à Turquia e à Arábia Saudita está vedada pois isso abriria uma frente desgastante para a Rússia, tornando-a impotente noutras frentes, como a Ucraniana, e a tornaria vulnerável a um ataque preventivo. Por outro lado, a nação que mais se favorece com a instrumentalização do Ocidente pela NATO é Israel, e a Rússia sabe disso, mas Israel é também a nação que mais possibilidades de sucesso teria num ataque nuclear surpresa contra a Rússia, especialmente se esta já estiver envolvida numa guerra contra a NATO que abra outra frente para além de uma campanha contra a Turquia, de preferência no leste europeu. Quanto à China, que é uma das chaves para compreendermos o que poderá acontecer, sabemos que a sua estabilidade pode ser afectada pelo estouro de uma gigantesca bolha de investimentos sem retorno, o que pode derrubar o regime, ainda mais levando em conta o poder suave das forças globalistas. Tal receio, que no caso das elites chinesas, habituadas a analisar a própria história sob a perspectiva dos ciclos dinásticos, agora acelerados em relação ao passado às transformações dos últimos dois séculos, deve ser levado em conta.

Caso houvesse uma guerra mundial em que os maiores oponentes se destruíssem, e a China ficasse numa posição de neutralidade, ou fosse pouco afectada (às custas do desgaste aumentado do possível aliado), a expansão terrestre e ultramarina seria uma opção para o regime e a China poderia, se soubesse explorar a crise, ocupar a posição de Império do Meio a nível mundial. Sendo assim, se não houver recuo da partir de Washington, que há muito foi capturada por interesses que usam os EUA para objectivos que muito provavelmente passarão pela destruição do mesmo, dificilmente não teremos guerra. Se quisessem evitá-la, bastaria um telefonema de Washington para Ancara, e outro para Riad, com algumas ameaças (não que fossem necessárias, mas para reforçar a ideia de que a actual crise não foi criada a partir de Ancara ou Riad), e no dia a seguir ficava tudo bem.

Por cá, em que nem sequer conseguimos fechar as contas da própria nação e cortar os gastos da ridícula máquina pública em 30% ou 40% (quanta vergonha!), o mínimo para relançarmos a nação num ciclo virtuoso, parece que nem fazemos parte da tal aliança militar. Nem vou comentar a posição do PS e do Bloco de Esquerda, afinal, todos sabemos que são facções servis aos interesses do grande capital internacional, mas fica claro que o PCP, que participa no actual governo, é conivente com o regime pois até agora não ousou emitir uma nota repudiando a nossa participação numa aliança militar que, na melhor das hipóteses, vai nos meter numa guerra que matará muito mais gente que um milhão de guerras do ultramar só para proteger os interesses corruptos de um Erdogan, mafioso directamente envolvido no comercio de petróleo saqueado, e da monarquia mais corrupta do planeta, a saudita.