Brasil: à beira do precipício, eis que seu povo resolve dar um passo em frente...

Até a poderosa Rússia teve seu território reduzido nas últimas décadas,

mas os brasileiros acham que são imunes à cobiça...

Há alguns anos, pouco depois do meu rompimento definitivo com o líder de seita Olavo de Carvalho, escrevi isto:

Exposing a Brazilian Agent Provocateur

Desde então, como é natural, refinei a minha posição, e reescreveria o artigo, redigido às pressas, para obter maior clareza e comportar as descobertas feitas desde então, mas o essencial na parte política se mantém: o Brasil tem sido desde há muito alvo de uma campanha de desestabilização e Olavo de Carvalho foi uma peça fundamental.

Olavo não tem a mesma audiência de jornalistas como Reinaldo Azevedo, sabemos, mas foi ele que criou o movimento que mais tarde levaria o mainstream da direita a citar o Foro de São Paulo e a identificar no PT um perigo à democracia, por coincidência no mesmo momento em que as redacções dos grandes jornais, a conta-gotas, começaram a dar mais voz à direita e a silenciar o apoio ao PT, num processo que ainda continua. O espírito por detrás do movimento também traz a marca do guru, afinal, é irracional e não tem nenhum objectivo claro a não ser a derrubada do PT a qualquer custo, num quadro mental de guerra santa. A conexão romena, exposta por Caio Rossi, dá pistas a respeito da técnica utilizada e das intenções por detrás disso. A eficácia da acção de Olavo foi tal que ninguém estranhou que o homem que até há pouco afirmava que o Brasil estava perdido, justificando assim a sua fuga para a Virgínia, e que se deveria formar uma classe intelectual no exílio pensando a longo prazo, já que o PT havia ocupado todos os espaços após décadas de guerra cultural inspirada nos ensinamentos de Gramschi e, ainda por cima, era o único partido com militância, agora defenda que o poder deve ser cair na rua, como um jacobino, opinião em que é seguido até mesmo por desafectos!

Quanto ao actual movimento pró-impeachment, e às movimentações no judiciário e no legislativo, fica clara uma coisa: não existe um movimento, mas apenas um conjunto de movimentos cujo nexo se dá apenas na fonte de inspiração, ou melhor, de recursos. Para além de não haver uma coordenação dos movimentos, há oposição entre os mesmos nas questões mais triviais e, o que é mais grave, nenhum consegue definir o seu objectivo para além da pauta “queremos a cabeça da Dilma”. Não há nada de errado em desejar a cabeça de Dilma, sou o primeiro a afirmar, e fui de facto dos primeiros que o fizeram, mas como defender tal ideia sem ao menos ter em mente um plano concreto para a nação e uma estratégia racional para a tomada do poder, evitando dar um tiro pela culatra que deite tudo por terra? Como podem pensar que manifestações de natureza totalmente emocional e altamente ideológicas trarão algo a não ser a violência nas ruas, justificando uma reacção extrema do outro lado que pode facilmente despoletar uma guerra civil que levaria à fragmentação do país num quadro de caos generalizado (as últimas eleições expuseram bem a tensão norte-sul)  ou a uma ditadura comunista em todo o território? E, já agora, será um governo tão impopular como o de Dilma, na sua fase final e sem condições de eleger um sucessor, um animal fora de controle ou um governo que já pouco pode fazer sem se enfraquecer ainda mais?

Pode alguém em são juízo achar que manifestantes bovinizados, com os ânimos exaltados pela massiva campanha mediática pró-impeachment (muitos dos quais eram ardorosos defensores do novo PT pró-mercado até há poucos anos), convencidos de que as manifestações levarão “alguém com poder” a agir, poderão fazer alguma coisa frente às forças organizadas em torno do PT se este decidir por uma mobilização geral, a começar pelos sem terra? Se o PT ainda nada fez, é porque sabe que, se lançar uma mobilização geral, não poderá voltar atrás, e a partir daí será o tudo ou nada, com a agravante das forças mais radicais tomarem a liderança diante do fracasso das facções que favoreceram uma aproximação com a burguesia (é assim que eles enxergam a situação). No actual momento, o melhor é esperar que os políticos ganhem algum juízo, chegando a um acordo, o que seria mal para os interesses de curto prazo do Brasil, mas teria a vantagem de relembrar à população que são todos iguais, ou que as forças armadas, ao menos a parte nacionalista delas, tenham um plano B que evite uma guerra civil se esta se tornar inevitável.

Para começá-la, bastará uma repetição do que foi feito no Euromaidan, e no Brasil, como todos sabem, o que não falta é pistoleiro (se faltar, basta ir ao mercado de Ciudad de Este). Para terminar, pensem numa coisa: se despoletar uma guerra civil no Brasil, ela terá componentes ideológicos, raciais e até mesmo religiosos, e acabará por contagiar todo o mundo ibero-americano. O Brasil pode ainda vir a experimentar uma haitização, ou melhor, algo ainda pior pois o seu território encerra riquezas ainda maiores que as do antigo Congo Belga. Quem não enxerga tal realidade, devo dizê-lo, não passa de uma criança. 

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