No primeiro post da série elementos essenciais para uma compreensão do papel da China no mundo, lancei uma série de estatísticas que evidenciam a revolução que se deu no mundo da indústria com o desenvolvimento chinês das últimas três últimas décadas. Tal evolução se fez sentir não apenas na indústria pesada de base, como exposto, ou na indústria de bens de consumo não duráveis, como todos sabem, mas também no sector de bens de consumo duráveis.
Nada melhor, especialmente levando em conta a importância do aprendizado da gestão de linhas de montagem complexas, do que os números da indústria automobilística para compreendermos o que se passou (pesquisem os mesmos dados para o ano de 1990):
Área
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Producção de Automóveis (2014)
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China Continental
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23.722.890
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União Europeia
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16.976.883
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Estados Unidos da América
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11.660.699
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Em 2014, é importante observar, a producção de
automóveis na China quebrou um novo recorde. Enquanto isso, a indústria europeia tem enfrentado uma lenta contracção desde 2007, enquanto a americana teve o seu auge em 1999.
O domínio da técnica de gestão das linhas de producção contínuas e da complexa
logística envolvida no processo chegou a tal ponto de maturidade que a China já aplica o princípio à producção de aviões comerciais de médio e grande porte. A COMAC já produz
um avião baseado no MD-80 e está prestes a lançar um projecto mais ambicioso, o COMAC 919,
projectado e produzido na China (o motor, GE, é produzido localmente, sob licença, mas os chineses são especialistas em engenharia reversa...). Nada mal para um empresa constituída em 2008,
mas não é tudo: a meta é produzir 150 unidades do COMAC
919 por ano a médio prazo e competir com a Airbus e a Boeing em todos os nichos de mercado.
Quanto à producção naval, podemos dizer com segurança que a China recentemente ultrapassou
a Coreia do Sul em toneladas lançadas ao mar e, levando em conta que há ao menos duas dezenas de projectos para
novos estaleiros em andamento, a tendência é aumentar a vantagem de ano para ano. Não se deve
ignorar o facto de que a producção naval mundial foi practicamente concentrada
em três nações nos últimos vinte anos, a China, o Japão e a Coreia do Sul, o que tem sérias implicações
estratégicas. Abaixo seguem os dados relativos à construcção naval nos três
maiores fabricantes do mundo, acompanhados pelos dados relativos aos três maiores
productores ocidentais:
Área
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Producção (Ton x 1.000) 2014
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China Continental
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22.682
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Coreia do Sul
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22.455
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Japão
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13.421
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Alemanha
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519
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Itália
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312
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Estados Unidos da América
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293
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Tudo isso é impressionante, ou melhor, diria que constitui o processo de enriquecimento material mais rápido e intenso de toda a história humana, ainda mais quando verificamos que a
China está na ponta do desenvolvimento tecnológico em vários sectores. Não apenas domina a producção, mas também o desenho de microprocessadores, por exemplo, tendo
há cerca de quatro anos um super-computador chinês, equipado apenas com processadores chineses, ultrapassado o recorde de capacidade de processamento até então pertencente aos americanos. O progresso
material segue um caminho semelhante ao tomado pelo Japão e pela Coreia do Sul,
mas com a vantagem da”chegada tardia” e da espantosa capacidade chinesa em
poupar e investir, que ultrapassa de largo a japonesa e coreana, o que o torna tão rápido que vários estágios da
industrialização seguem em paralelo ao invés de se sucederem gradualmente, como nos outros casos.
Porém, nada disso explica por si o espantoso crescimento prematuro do exército
de robots industriais chineses. A China, apesar do volume de mão-de-obra
disponível e dos ganhos fáceis por fazer devido à baixa productividade, já se tornou o maior mercado do mundo para
robots, tendo recentemente ultrapassado o Japão por larga margem. No documento disponibilizado abaixo se
pode ter uma ideia do impacto que a robotização da China, processo no qual o governo
tem se empenhado com energia desde 2005, teve e terá a curto prazo no mundo da producção:
Ainda estamos nos primeiros passos desse processo pois o governo chinês
começou a incentivar a robotização precoce da economia há pouco, mas os avanços foram de tal ordem que o Japão, nação em que a robotização é perseguida com afinco há três décadas e desde sempre liderou o processo com folga, será ultrapassado neste ano. Em apenas dois anos, em 2018, China terá um exército de robots
duas vezes maior que o japonês, e daí para a frente podemos esperar um longo período de aceleração do processo de robotização da economia chinesa. Para além do volume de vendas e de producção, ainda devemos
destacar que os fabricantes chineses já fornecem 30% dos robots usados pela
indústria local. Para além do impacto directo na producção, que pode vir a ser determinante no campo militar, não podemos esquecer o
impacto que a robótica pode vir a ter nos campos de batalha. A era dos drones, meus caros,
apenas começou...
https://www.youtube.com/watch?v=31KwORqtYe8
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