sexta-feira, 8 de abril de 2016

Panama Leaks: Impressões iniciais




Sem ele é ainda pior...


 A partir da informação vazada pela operação Panama Leaks, apesar de ainda não se poder chegar a conclusões definitivas, é possível se especular com alguma precisão a respeito das verdadeiras intenções que movem os seus promotores.

A manipulação grosseira e desastrada da opinião pública, patente na utilização da fotografia de Putin quando o nome do mesmo nem sequer é mencionado nas 11 milhões de páginas reveladas, e o timming, que coincide com a derrota globalista na Síria e o início de novos problemas no Cáucaso, me faz crer que o alvo, ao menos de forma directa, não seja a Rússia, e muito menos os políticos citados. Creio que tudo não passa de uma cortina de fumaça, apesar de não descartar a hipótese de uso político de alguns factos revelados no hemisfério sul, como combustível extra para novas primaveras (A Islândia não conta).


Ao constatar que várias contas de bancos da esfera internacionalista foram expostas, incluindo contas de gente pertencente à rede, e reparar nos movimentos financeiros da mesma rede, que gradualmente esvazia os paraísos fiscais tradicionais em direcção aos novos paraísos fiscais americanos criados durante a administração Obama, me parece que os grandes objectivos da operação são a criação de um ambiente mental propício à mudança do sistema financeiro internacional que levará à extinção do dinheiro físico, à imposição de uma legislação internacional que acabe com os paraísos fiscais existentes e ao controlo de todas as operações de troca por uma instituição internacional. A crise financeira, o desemprego e a inveja farão o resto...

Em nome do combate à sonegação fiscal e à lavagem de dinheiro, practicadas apenas pelos que têm acesso aos serviços dos bancos especializados, dos quais apenas uma minoria é responsável pelo grosso das operações ilegais, que em verdade constituem uma fracção mínima do que foi vazado pelo Panama Leaks, o que se conseguirá é acabar com as poucas saídas que ainda restam para que uma parte significativa da classe média alta - e dos moderadamente ricos - escape ao saque fiscal que esmaga os pobres e quae toda a classe média, levando à monopolização de tais canais por um grupo mais rarefeito e chegado aos controladores do sistema financeiro. Isto, somado à extinção do dinheiro físico, dará aos poucos eleitos do topo da pirâmide uma posição única na história do mundo. No fundo, este movimento se trata apenas do final de uma longa evolução que deu o passo inicial com a criação da dívida consolidada, ainda nos tempos do absolutismo, e da imposição do monopólio das emissões por bancos privados com foro privilegiado ao longo dos pouco mais de dois séculos que separam a Revolução Gloriosa, e a posterior fundação do Banco de Inglaterra, da fundação do FED.

Politicamente, tal “solução” já não é apenas um desejo das elites ocidentais ligadas à banca internacionalista, mas sobretudo uma necessidade. Para corrigir o grave desbalanço causado pelas políticas fiscais e pelo “socialismo monetário” (só a dívida total americana, somada aos compromissos previdenciários, deve girar em torno de US$850 mil per capita, enquanto o património total chega a cerca de US$350 mil), torna-se necessário recorrer a um agravamento do saque fiscal, e num sistema como o que muitos estão a propor, de abolição do dinheiro físico e total controle estatal sobre as operações financeiras e que envolvam trocas, parte do saque pode vir pela via discreta da “inflação controlada”.

A experiência histórica aponta para aí. Na altura em que a moeda física circulava livremente, não existindo ainda o monopólio da emissão e circulação do papel moeda, quem se encontrava em desvantagem em termos fiscais, e de sigilo em geral, eram os possuídores de grandes fortunas pois estas eram difíceis de se esconder, enquanto as pequenas quantidades de moeda ou outros bens, à excepção dos imóveis, podiam ser facilmente protegidas do saque fiscal. Substituído o metal amoedado pelo papel moeda, as coisas mudaram. A partir daí era fácil, pela marcação das notas e obrigatoriedade da circulação em papel, investigar o caminho seguido pelo dinheiro. Tentem trocar uma quantia significativa de dinheiro por outra divisa e posso vos garantir que os senhores verão que nada se faz sem que se deixe alguma pegada.

Porém, a tal controlo escapa o banqueiro do topo da pirâmide, ou seja, o banqueiro ligado directamente aos bancos centrais, que passava a ter acesso a toda informação sobre toda a circulação monetária ao mesmo tempo que passava a gozar de um foro privilegiado que o coloca acima do fisco e da lei. Não foi por acaso que as grandes fortunas que dominaram de forma visível o mundo durante o século XIX até ao princípio da Primeira Guerra Mundial, dominando interesses industriais que podiam determinar a balança de poder, e interesses financeiros com poder de vida ou morte sobre regimes e nações, quase que “desapareceram” depois da criação do FED e da imposição do mesmo modelo de banca centralizada e de emissão monopolizada, sob controlo privado e gozando de um foro especial, justo quando estas famílias conseguiam finalmente conectar uma rede de interesses bem coesa e extremamente estável em escala global.

Com o fim do padrão-ouro, os Rothschild, apesar da sua clara posição de controlo sobre a rede à qual se conectam quase todas as grandes fortunas do mundo, quase desapareceram das listas que todos os anos aparecem em revistas como a Fortune, passando a ocupar posições relativamente modestas, tal e qual ops Windsor e os Orange (apesar destes deterem o controlo da BP e da Shell), parecendo assim simples aristocratas em decadência. Porém, o poder deles nunca foi tão grande e eficaz quanto é hoje.
Desaparecendo o dinheiro físico, e em se estabelecendo o total controlo das operações financeiras por uma entidade internacional ainda mais distante do homem comum que as instituições nacionais que destruíram a coesão e a política local, e influenciável apenas pelos que têm poder a nível global, quem ganhará com isso? Acho que todos são capazes de responder a pergunta. No dia em que isso for feito, podem ter a certeza de que saberemos ainda menos do que hoje a respeito das verdadeiras grandes fortunas, mas os senhores do mundo, com acesso privilegiado à informação, saberão tudo a respeito de todos em pormenor. 

De resto, lembrem que há uns dias eu próprio fui implicado, junto ao meu irmão, ao Caio Rossi e ao Dídimo Matos, no escândalo Panama Leaks. Um sinal do que está por vir. Por sorte, foi um bruxo maluquinho que já ninguém leva a sério que nos acusou de receber dinheiro de Putin por via do Panamá. Segundo o mesmo, para incorporar seus amigos falecidos num terreiro de macumba...

2 comentários:

  1. Quanto à abolição do dinheiro físico, creio que seja uma realidade ainda distante, que só seria possível em uma economia de corte fascista ou em setores específicos, mais fáceis de controlar, p.ex., no Brasil a ANTT obriga o pagamento dos fretes exclusivamente por meios eletrônicos, a fim de facilitar a extorsão fiscal. No mais, você não acha que uma moeda virtual, na linha do Bitcoin, não poderia nos dar uma boa margem de liberdade dos governos? E que uma moeda "livre", ainda que virtual, poderia evitar o total controle da economia, mesmo com a abolição do dinheiro físico?

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  2. Discute-se tal coisa no Clube de Bilderberg faz tempo, como relatado no livro de Daniel Estulin. É um dos meios de instalação e, claro, após, de manutenção do "governo único". Aos que desconhecem que o ocaso do dinheiro físico (e do cartão de débito, por igual) está intimamente ligado ao advento da "identidade única" (um "passaporte local e global", por meio de microchips), para fins de controle absoluto sobre mentes e corpos, os globalistas, pelos meios de que dispõem para convencer-nos (filmes, livros de ficção, periódicos, Academia), vão se pôr a expor ao homem atual (destituído de tempo e, entre nós, acossado pela violência nas grandes cidades) as "vantagens" de andar despreocupado, sem documentos; de não se preocupar com furtos e extravio de dinheiro e documentos, etc. Quem pensará em "soberania nacional", "pátria" e "intimidade" a tal altura?

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