O deputado e a piranha: um episódio banal que explica parte do "Grande Jogo"...

Deputado? Nem pensar. Este nasceu para o Senado!

Ontem tomei conhecimento de um episódio aparentemente banal, mas que revela bem a natureza da política brasileira e, em certo grau, ainda que com menor grau de despudor e amadorismo, de todo o mundo ocidental. Um deputado federal brasileiro contractou os serviços de uma profissional e usufruiu dos seus serviços em plena Câmara.  Até aí, nada demais (há poucos meses, lembrem, tivemos o caso de "Lord Coke").  O mesmo se passa em muitos órgãos legislativos do mundo, e isso está longe de ser o pior. Pedofilia, prostituição e cocaína são três palavras insistentemente associadas a parlamentares de todo o mundo, e não injustamente. As coisas são assim e não poderiam ser diversas pois foram concebidas dessa maneira...

Por qual razão? Para que os poderes capazes de influência a nível intra e internacional mantenham um controlo rígido sobre a classe política sob a máscara da representatividade. Para além das várias maneiras, nalguns casos mais eficazes, noutros menos, usadas em cada nação para viciar a representação, impedindo a formação de um vínculo sólido e duradouro entre a população e os seus representantes (ainda que eu veja pessoalmente a existência de um poder legislativo permanente como algo absurdo e um convite ao fracasso), tornando estes exclusivamente dependentes dos que possuem os meios para promover ou despromover os políticos através das máquinas partidárias, ou mantê-los empregados fora do meio da política quando necessário, há outras pelas quais os tais poderes capazes de acção a nível intra e internacional controlam os “entertainers” da política. Estas passam basicamente pela corrupção, em todas as suas formas e não apenas financeira. Esta última, apesar de ser a mais preocupante para o cidadão comum, costuma ser apenas a porta de entrada no inferno da política.

Do ponto de vista dos tais poderes, para termos controlo eficaz e garantido sobre um político qualquer, nada melhor do que escolher um perfil que junte os piores vícios possíveis à incapacidade de êxito pelo mérito. A única qualidade que conta é a capacidade de decorar discursos e cativar pelas palavras, ou seja, ser um bom vendedor. No caso brasileiro, não é por acaso que os mesmos tipos que se dão bem enquanto pastores das mais peculiares seitas se adaptam perfeitamente à política. Conversa escorregadia é suficiente para enganar a maioria esmagadora da população, ao menos enquanto os media corporativos passam uma imagem favorável, e isso basta para dar credibilidade ao circo eleitoral.

Sendo assim, o político ideal é viciado em drogas, tem família como fachada para encobrir taras inconfessáveis, é incapaz de controlar os próprios gastos, não resiste ao impulso de roubar, consegue ludibriar apenas o medíocre mas imagina ser o mais sagaz dos homens, quando não passa de um homem comum sem nenhum tipo de restricção moral e que só por isso está em vantagem em relação à maioria, mas não em relação à minoria que ele acaba por servir, muitas vezes sem jamais se dar conta da realidade (e não em raros casos cavando a própria sepultura). 

Pois bem, voltemos ao tal deputado. Não satisfeito em levar uma prostituta para a Câmara e usufruir ali mesmo dos seus serviços, o que, ainda mais não sendo a primeira vez que acontece e é vazado, demonstra a normalidade de tal práctica, o que indica ela ser instrumental, ele tirou dezenas de fotografias e as partilhou pela net num grupo de conversa com dezenas de "amigos", ainda por cima "amigos "políticos! Chega a ser risível. Mesmo que não houvesse o mais do que esperado vazamento da parte de um dos inconfidentes, imagino que qualquer tipo capaz de falar e andar ao mesmo tempo sem tropeçar ou gaguejar sabe que as redes sociais são uma arma nas mãos de alguns serviços de inteligência, ou melhor, dos serviços secretos mais poderosos.

Agora vamos ao outro lado do mundo. Na Rússia, na qual existe uma coesão bem maior do que em qualquer nação do Ocidente, além de um governo forte e dotado de instrumentos de inteligência e acção bastante eficazes, ainda assim a ingerência de forças exteriores é gigantesca e coloca problemas consideráveis à governação de um líder capaz e que, ainda por cima, detém a confiança da maioria esmagadora da população. No vídeo abaixo, se pode ter uma ideia do que é a política na Rússia, apesar da imensa quantidade de anticorpos contra a ingerência externa (ao menos na comparação com as nações ocidentais, para não falarmos do Brasil):

Agora pensem se algum grau de autonomia perante os poderes capazes de influência a nível global é possível numa nação onde tipos como o deputado apanhado em flagrante são escolhidos a dedo para serem lançados na política e dominam o legislativo, e não só (vivemos no tempo dos juízes-heróis...). Tal ambiente, sinto dizer, é um verdadeiro parque de diversões para os serviços de inteligência das nações poderosas e para as redes de influência globais, que melhor do que ninguém sabem explorar as fraquezas morais dos homens em prol das suas agendas...