Perante o virtuosismo com que a liderança russa perseguiu os
seus objectivos em relação à Síria, encurralando a administração Obama, com o
cuidado de deixar uma porta aberta para esta, de modo a evitar um conflicto
desnecessário, ainda assim ficaram muitas perguntas por responder. Entre os aspectos que me intrigam, destaco a resolução russa. Seria tudo apenas um
bluff ou estaria a liderança russa verdadeiramente disposta à guerra?
Com o que sei, num primeiro momento, concluí que os russos falavam a
sério, porém, quando investigamos o poder militar, especialmente de nações como
a Rússia e a China, mas nem por isso muito menos no que toca ao Ocidente, temos
que contar sempre com a desinformação e a ignorância a respeito de factores que podem ser
fundamentais, afinal, na guerra, mais do que em qualquer outra actividade humana, o
segredo é a alma do negócio.
Faço esta observação pois alguns programas militares russos,
chineses e americanos conhecidos estão envoltos num grau de secretismo bastante
alto e o que é ignorado, a não ser por
uma minoria ínfima da humanidade, a história prova que é importante e pode ser fundamental. Podemos conjecturar a respeito do real
balanço de poder, que depende destes factores desconhecidos de nós, analisando o
sucesso com que os actores políticos têm alcançado os seus objectivos, não
esquecendo de equacionar isso com a habilidade política e o modus operandi de cada um
deles.
Numa primeira leitura dos factos, a partir de tudo o que
sei, só posso concluir que os russos estão seguros do seu poderio militar e da
sua superioridade em relação à NATO, ou melhor, relativamente aos EUA (o resto pouco conta). Talvez haja um facto desconhecido que torne essa percepção imprecisa, mas há anos investigo
estes assuntos e não consegui descobrir nada que agora prove o contrário.
Até aqui, não há nada de novo, mas há uma novidade. A Turquia, integrante da NATO,
concluiu há poucos dias uma licitação para o fornecimento de um sistema de defesa anti-aérea
com capacidade anti-míssil onde participava o Patriot PAC-3 americano, o mais
sofisticado sistema ocidental, que actualmente já é usado no seu território por
equipas americanas, alemãs e holandesas (desconheço as versões). Concorriam
sistemas semelhantes da China (HQ-9), da Rússia (S-300)* e franco-italianos (EUROSAM). Para
surpresa de todos, sabendo de antemão que o sistema russo, apesar de ser o mais
sofisticado e ter um preço acessível, não seria escolhido (especialmente depois do que se passou na Síria), não venceu a oferta
da Lockheed Martin/Raytheon. A licitação foi vencida pela China!
Considerando que nesse sector a China está muito atrás da
Rússia, que colabora com a sua evolução tecnológica, mas nunca lhe fornece a
tecnologia mais avançada, que guarda apenas para si, podemos ter uma ideia do
quanto a Rússia está mais evoluída do que o Ocidente nessa tecnologia, num quadro onde
ela também detém a liderança na tecnologia de mísseis balísticos, especialmente a partir
do lançamento recente do Bulava e do RS- 24 Yars. Para piorar o quadro, vale a pena ressaltar que para além do preço, um dos factores fundamentais para a escolha do sistema chinês foi a disponibilidade dos chineses para a transferência completa de tecnologia, o que indicia que esta não é tão estimada pelos chineses quanto a tecnologia do Patriot PAC-3 o é pelos americanos, que não a fornecem nem aos aliados NATO.
Perante essa situação delicada, pouco depois de um fracasso político notável, o governo americano se vê diante das seguintes opções: ver o seu sistema de defesa anti-míssil rejeitado por um aliado NATO em favor de um sistema chinês ou obrigar o governo turco a voltar atrás, gerando ainda mais tensão dentro da NATO. Isso pode vir a ter repercussões importantes noutros programas de armas, especialmente no F-35. Já há rumores de
que o governo Erdogan cancelará a licitação e comprará o sistema americano. Nesse
caso, os chineses perderão alguns tostões e os americanos, em troca disso,
criarão ainda mais animosidade entre os seus aliados, podendo vir a colocar o governo de Erdogan numa situação delicada perante a "opinião pública" interna.
Mas ainda há mais a dizer. De acordo com várias fontes, estivemos bem mais próximos da guerra
do que se imaginava, mas ainda não
pude averiguar a qualidade da informação. Porém, tudo se encaixa. No dia e na hora marcada para o início da agressão, os americanos dispararam dois
mísseis contra a Síria desde uma base em Espanha. Um
dos mísseis foi destruído e o outro foi desviado para o mar pela mão dos russos. Se isto se confirmar, ficamos a saber que os mísseis de defesa russos são operacionais e precisos e, o que é mais surpreendente, que a Rússia detém tecnologia para desviar os nossos mísseis e não pode ser surpreendida.
Obama, ao descobrir isso, recuou. Fez bem.
* segundo o que se consegue apurar, os russos estão prestes a começar a produção em massa do S-500.
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