segunda-feira, 20 de abril de 2015

Monarquia liberal em Portugal: um fracasso moral e material que só convence os atrasados

Partidário da Bandeira Azul e Branca e radical duartista. 

Quase todos os monárquicos percorrem um longo caminho, que invariavelmente passa por uma fase
liberal, até chegarem à NOSSA monarquia, modelo que os liberais tanto insistem em associar ao absolutismo, predecessor dos regimes liberais em inúmeros aspectos (centralismo, burocracia e soberania), e a um suposto atraso do qual todos falam, mas ninguém estudou a fundo ou consegue provar, de forma a esconderem o próprio fracasso. 

Foi durante a pseudo-monarquia liberal que Portugal  se tornou pobre de facto em comparação a nações que hoje associamos à riqueza, como as nações escandinavas, e não mais apenas em relatos parciais de estrangeiros pouco simpáticos a nós, como foi costume durante o século XVIII, perdendo o rumo de tal forma que chegamos ao ponto de nos tornarmos irrelevantes até em sectores em que fomos mestres até pouco antes da imposição do liberalismo, como a construcção naval, até mesmo em comparação a nações como a Dinamarca. Muita coisa mudou, e rapidamente, desde o fim do século XVIII, época em que oficiais britânicos teciam elogios às capacidades técnicas dos navios de linha portugueses, considerados por muitos superiores ao que era construído nos arsenais ingleses. 


A justificação maior para as reformas liberais por cá implantadas a ferro e fogo, o progresso material, não passou de promessa, e as ferrovias, que muitos citam como prova dessa modernização, foram construídas por todo o planeta, desde os Andes até ao Ganges, não constituindo por isso nada de admirável, ainda mais quando lembramos que o financiamento e o maquinário eram britânicos. O tal fontismo, que marcou a época de maior optimismo da monarquia liberal, não passou de uma imitação de quinta, e tardia, do que se fez em quase toda a parte do que mais tarde viríamos a conhecer por terceiro mundo. Mais importante, o que se viu foi uma enorme transferência de terras confiscadas para as mãos de uma elite exportadora e acomodada, afinal, foi promovida pela via política, levando ao fim de um processo de especialização, já referido por Adam Smith e homenageado por figuras como David Ricardo, que nos levou, sem surpresa para qualquer pessoa que não se deixe levar pelas falácias liberais, ao desastre económico despoletado pela filoxera numa conjuntura em que a nossa base industrial era ridícula e ficávamos atrás até do Egipto, que como nós também tinha problemas com a dívida externa. Os números não enganam e sugiro a todos que procurem pelas estatísticas, comparando-as com a de outras nações. Aqui vai um exemplo onde uso uma nação que já citei, a Dinamarca, para mostrar o que foi a nossa trajectória, em termos económicos, no século da revolução industrial:

População (x 1.000)                  1820           1900
Portugal                                     3.297          5.404
Dinamarca                                 1.155          2.561

PIB (x 1.000.0000US$ 1990)   1820           1900
Portugal                                    3.265          7.037
Dinamarca                                1.471           7.726 

PIB Per Capita                         1820             1900
Portugal                                    1.073            1.302
Dinamarca                                1.274            3.017

Para entendermos melhor os números, vale a pena lembrar que a Dinamarca, ao contrário de Portugal, optou por políticas que favoreciam os camponeses e a pequena propriedade. Por cá, como tem sido habitual, se aderiu aos ensinamentos da economia política em voga na altura.

No primeiro ano da série (1820), convém ressaltar que estamos comparando um Portugal saído de uma guerra brutal, onde cerca de 10-15% da população pereceu e a política de terra queimada, assim como as pilhagens francesas e inglesas (que aproveitaram para destruir muitas das as nossas fábricas e máquinas a vapor), deixaram um território desolado, um povo mutilado e um estado endividado com a banca internacional (e prestes a ser amputado da sua fracção americana). A Dinamarca, pelo contrário, foi poupada durante a guerra e o episódio do bombardeio de Copenhaga mais não foi do que um incidente se o compararmos à brutalidade e destruição causadas pela guerra peninsular. Poderiam muitos argumentar que as guerras civis em Portugal explicam muito do atraso português ao fim do século XIX, mas esquecem os mesmos que a Dinamarca enfrentou uma guerra com a Prússia e se viu privada de um território importante durante o conflicto. Se lembrarmos que a Portugal não faltava capacidade técnica para avançar no caminho da industrialização, como prova a manufactura de algumas armas inovadoras que por cá foram produzidas, assim como a existência de fábricas modernas e técnicos aptos a construir máquinas, e que a nação dava passos significativos antes das guerras napoleónicas chegando a ter saldos comerciais até com o Reino Unido depois de quase um século de sangria (Tratado de Methuen...),havendo relatos de exportações de tecidos de algodão manufacturados em Portugal durante a década de 90 do século XVIII, mais vergonhosa se torna a prestação da "monarquia liberal", cujo desempenho económico faz Che Guevara, enquanto economista, parecer competente. Podem outros falar da falta de matérias-primas ou da topografia acidentada, mas a estes lembro que o Japão, que podemos dizer que só entrou na "corrida da modernização" tardiamente, por volta de 1865, também padecia dessa fraqueza e em menos de trinta anos estava em condições de derrotar militarmente uma China que modernizava as suas forças armadas com o que havia de melhor, e pouco depois derrotou a poderosa Rússia.

Para não ser exaustivo, desejo apenas recordar que Portugal, ao princípio do século XIX, era mais rico que a Alemanha e que a força industrial alemã, apesar da reconhecida qualidade dos seus técnicos, é relativamente recente. Como exemplo do que foi o crescimento alemão, gosto de referir os números da Krupp. Em 1848, ano que para nós assinala o fim de um ciclo de guerras civis e o início de um período mundial de prosperidade que por cá, infelizmente, só deixou dívidas por pagar, uma população desesperada e a vergonha de sermos lacaios do império britânico, a Krupp possuía "apenas" 72 funcionários, menos do que muitas das fábricas que Portugal possuía durante o atrasado antigo regime. Já em 1873, as fábricas da Krupp em Essen empregavam 12 mil pessoas. Outro ícone da indústria, a Siemens, foi fundada em 1847, tendo por primeiro funcionário o irmão do fundador! Enquanto isso, por cá, nem sequer na indústria têxtil tivemos um desenvolvimento digno de nota, como por exemplo teve o México, e em tais circunstâncias não foi por acaso que a dotação e os adiantamentos à Casa Real, que chegavam, se não me engano, a 8% do orçamento, tiveram a consequência que conhecemos. E ainda querem repetir a fórmula...


1 comentário:

  1. Coincidiu com o início de uma menor participação da Igreja no governo e na sociedade.

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