vender galinhos de Barcelos e a babar por causa das visitas das madonnas da vida.
Há algum tempo tenho vindo a ser cobrado por alguns leitores a respeito das minhas posições políticas. Nada mais justo. Quando o blogue Prometheo Liberto começou, era um monárquico tradicionalista. Entretanto, como sabem, deixei de o ser, sem com isso abandonar as lições que a ideia de subsidiaridade e divisão orgânica do poder implícita na velha ordem medieval ibérica, ordem essa que foi solapada pelos próprios monarcas, nos dá. Mas são apenas casos para o estudo, e não modelos aos quais me agarro.
Os estudos dos últimos anos me abriram os olhos para certas realidades que antes havia ignorado, especialmente em relação à mudanças no cristianismo ocidental entre os séculos VIII e XVI, e outras realidades às quais não dei o devido valor, como a destruição da civilização antiga conduzida pelas monarquias germânicas depois da deposição de Rómulo Augusto por Odoacro, com destaque para a acção dos francos. Diante disso, fui obrigado a reconhecer que estava equivocado nas minhas conclusões e tive de ajustar a minha perspectiva. Se houve limitação do poder real e foralismo na Península Ibérica, foi simplesmente porque as monarquias germânicas por aqui não conseguiram ser tão eficazes quanto foram os francos na destruição da antiga ordem e na reducção das populações romanescas à servidão. Prova isso a acção posterior de todas as dinastias na centralização do poder, sempre em conluio com grupos constituídos por outros alienígenas* especializados no tráfico de escravos, em operações de câmbio e empréstimos a juros.
Dicto isto, cai a própria ideia de um Portugal imaterial, eterno, assim como cai por terra a legitimidade de um estado espanhol, francês ou italiano. Não passam de criações artificiais que dividiram os que antes estavam juntos, jogando-os depois uns contra os outros em favor dos interesses dos seus verdadeiros inimigos, ou seja, as tais dinastias germânicas. E assim sobram poucas coisas de concreto: as regiões, as cidades, a unidade dos crioulos do latim e o facto de estarmos organizados em estados nacionais que não correspondem às realidades orgânicas. Quanto à tal "portugalidade", não passa de um conceito digno de terreiro de macumba. Minhotos são mais parecidos com galegos do que com algarvios, transmontanos mais parecidos com leoneses do que com lisboetas, e por aí adiante. Citei a macumba não por acaso. Basta olhar com atenção para os pessoas e para a tal filosofia portuguesa para saberem ao que me refiro: milenarismo obscurantista.
Assim creio que Portugal, assim como o Brasil, são apenas realidades momentâneas sobre as quais devemos operar com pragmatismo, e nada mais. Porém, considerando que o mundo está em mudança, se obtivermos sucesso em retomar por cá o que é nosso e operar certas reformas, valerá a pena buscar inspiração no conceito de Romanidade. O resto, e me perdoem pela sinceridade, é conversa para bruxos e para os manuais escolares encomendados pelo cosidetto ministério da educação.
* Por favor, não tomem o meu "alienígenas" por homenzinhos verdes de Marte ou Alpha Centauri, mas apenas por "forasteiros".
* Por favor, não tomem o meu "alienígenas" por homenzinhos verdes de Marte ou Alpha Centauri, mas apenas por "forasteiros".