Objectivos do grande jogo

Estranho, sim, mas não improvável. 

O que se passa hoje faz sentido quando interpretado à luz das propostas de reorganização do mundo surgidas após a desintegração da União Soviética, ainda que os desenvolvimentos recentes não previstos tenham uma importância fundamental, mais reforçando do que alterando o rumo das coisas. As constantes revelações a respeito do lado sombrio dos Clinton, por exemplo, são apenas a ponta do iceberg. Se a trama for investigada até ao fim, o que pode muito bem acontecer numa presidência Trump, a estrutura de poder do mundo será exposta e a actual elite, ou pelo menos uma parte significativa dela, terá os dias contados. 

Os sinais em torno de Trump são pouco claros, mas aceito como provável a hipótese de que a sua eleição realmente representará uma ruptura na América, ainda que seja por mera ambição pessoal. Trump terá sérias limitações e enfrentará uma onde de oposição inédita na história americana e ele, verde em questões internacionais, pode bem ser colocado numa armadilha. Os senhores do mundo, ainda que percam a América, podem causar problemas dos mais variados e complexos em qualquer parte do mundo, sabem que as multidões são previsíveis e têm o poder sobre os media corporativos...

O que é certo é que vale a pena arriscar em Trump pois a alternativa levará à guerra de certo, até como estratégia de sobrevivência política, ou melhor, de aumento dos poderes de Washington. Neste momento, confesso, aceito hipóteses das mais variadas e aparentemente absurdas como possíveis. Não estranharia, caso Hillary ganhe a corrida, que a NATO e a ONU sejam usadas por Washington para conter possíveis reacções armadas de parte da população e até mesmo das forças armadas, podendo mesmo tais reacções serem despoletadas por agentes provocadores para que Hillary tenha pretexto para obter poderes extraordinários. Como podem perceber, não estou muito optimista e aceito a possibilidade dos piores cenários se concretizarem com naturalidade. Sugiro a todos que façam o mesmo. Agora voltemos ao princípio.  

Recomendo a todos uma leitura atenta aos pormenores do "O Grande Tabuleiro" de Zbigniew Brzezinski, com foco para o que ele escreve a respeito dos limites de tempo do poder americano para se criar uma ordem internacional estável e duradoura que "acomode" a China e a Rússia (e também a Índia) e os passos que devem ser dados ao longo desse tempo, que está chegando ao fim na previsão original de Brzezinski (na minha opinião, já passou pois a extraordinária recuperação da Rússia sob Putin e o estrondoso e constante crescimento da China não foram previstos). Entre os vários passos necessários, alguns são bem esclarecedores. Cito dois:

1 - Estender a União Europeia à Ucrânia e, se possível, à Bielorússia, incluindo as duas nações na NATO de seguida, até "2010".

2 - Reforçar os vínculos políticos e a dependência económica da Rússia para com o Ocidente, fazendo avançar o processo de "democratização" e reforma do Estado Russo, que deve ser "descentralizado". 

Quanto à descentralização do Estado Russo, segundo Brzezinski, o ideal seria substituir a actual Federação Russa por uma confederação constituída por três federações menores. Para quem estudou a tradição federalista americana, o intuito por detrás disso é bem claro: dividir a Rússia em fracções que podem ser facilmente absorvidas nas estruturas globais que Washington criou com o fim de perpetuar a sua hegemonia num mundo onde a sua janela de oportunidade para estabelecer o primeiro e último império global está se fechando.

Com tanto em jogo, e ainda por cima num contexto onde parar significa cair, não é estranha a ligeireza com que tantos aceitam o risco de uma guerra nuclear...