sexta-feira, 11 de abril de 2014

Episódios edificantes



Um dos mitos que sempre me intrigou foi o da suposta inaptidão dos portugueses para a guerra. Quanto mais estudava o mito, mais intrigado ficava com a sua origem, afinal, nada corroborava tal coisa, especialmente quando confrontava a história dos portugueses com a de outros povos. Em todos os episódios dignos de nota em que portugueses lutaram, muitas vezes até por causas estranhas ao nosso povo, notei que a inferioridade numérica exorbitante foi uma constante na nossa história militar e que jamais nos sentimos intimidados pelos números, ao contrário do que verificamos hoje. Ao ler Vegécio, reparei na semelhança do espírito que nos guiava com o espírito dos romanos, assim como nas diferenças. Se por um lado preferíamos exércitos pequenos e bem preparados, tal e qual os romanos, por outro éramos ridículos a nível demográfico relativamente a todos os oponentes, ao contrário dos romanos. Portugal, como ficou provado em Alcácer Quibir, não podia se dar ao luxo de uma Batalha de Canas.

Ao cruzar esse facto com a temeridade com a qual Portugal se lançou contra os seus inimigos, temeridade que não indicava insanidade, mas sim uma segurança ímpar diante da adversidade e da precariedade da existência humana que somente uma fé bem fundamentada pode proporcionar, evitando assim o erro clássico de Sabinus em que quase todos os homens, especialmente os que vivem entre as nuvens, têm caído, é díficil manter o moral elevado diante do quadro oferecido pela porção da juventude influenciada pelas modas. Está mais do que na hora de voltarmos a mostrar aos jovens que há vida para além dos vídeojogos, da televisão e das engenhocas ridículas que inventam a todo o momento, e que a vida pode ser muito mais interessante do que a vidinha pequeno-burguesa que a sociedade do empreguinho e do respeitinho ao fiscal oferece. Para isso, contudo, será mais uma vez necessário buscar inspiração no passado.

Assim, nada como lembrar um episódio edificante, que mostra que nossos avós, ao contrário de nós, tão moderninhos, olhavam para aqueles a quem hoje lambemos as botas com desprezo, e que os avós daqueles a quem lambemos as botas hoje sabiam que os nossos avós estavam certos em desprezá-los.

Em 1607, uma esquadra holandesa partiu para o Índico, aparecendo em frente à fortaleza portuguesa, descuidada, mal artilhada, precariamente municiada e guarnecida por menos de 80 homens, com onze naus, abundante artilharia e cerca de 1500 homens de armas. Os holandeses não deram trégua e ceifaram a vida de muitos portugueses com a sua artilharia, especialmente com o fogo de metralha por cima dos muros. Apesar das dificuldades, a tenacidade dos portugueses foi tanta que os próprios holandeses propuseram um cessar-fogo, pedindo para parlamentar com os lusos.

Sobranceiros pois seguros da sua força, os holandeses, como era habitual, tentaram solapar o moral dos portugueses afirmando que tinham muita pena de não encontrarem mais portugueses com valor como existiam antes, mas apenas uma sombra dos seus antepassados. Diante disso, o comandante português não hesitou a propôs uma solução para a questão ao comandante holandês: este escolheria 50 dos seus melhores homens para lutar contra 25 portugueses. Ao contrário do que as suas palavras iniciais nos levariam a crer,  o comandante holandês declinou a oferta.

Recomeçadas as hostilidades, apesar da superioridade, nada conseguiram os holandeses apesar de dois meses de cerco e fogo constante sobre os portugueses, que em surtidas que em nada ficariam a dever às mais audazes acções das melhores tropas especiais contemporâneas, destruíram as máquinas de cerco do inimigo, enviando muitos hereges para o inferno e, o que é mais importante, inutilizando muitas das suas peças de artilharia. Numa dessas acções, cerca de 20 portugueses conseguiram se livrar do perigo ao se bater contra algumas centenas de inimigos que os surpreenderam e soaram o alarme enquanto estes destruíam enormes rampas de assédio, voltando victoriosos à fortaleza.

Levantado o cerco holandês, uma outra frota batava por ali passaria e tentaria a sorte três meses depois. Teve o mesmo destino. Depois de muitas tentativas, desistiram os holandeses de tomar Moçambique e se decidiram por fundar uma colónia no Cabo, pelo qual os portugueses nunca manifestaram grande interesse.

7 comentários:

  1. Obrigatória a leitura dos 8 volumes de "Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa" de Saturnino Monteiro. As batalhas descritas no Volume 1 são de espantar e empalidecem outros eventos "cantados" em filme e livro "lá fora".
    Hoje estamos reduzidos à dimensão de anões em comparação com os gigantes de outrora. E - insisto - não é à toa.

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    1. Pedro,

      Por acaso, já pensei em escrever um roteiro e enviá-lo para o Mel Gibson. Assim que estiver mais descansado e livre das tarefas ligadas à sobrevivência, tratarei de pôr a ideia em práctica.

      Abraço!

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  2. Quero ver voce rebater este texto ponto por ponto :

    http://www.midiasemmascara.org/artigos/globalismo/15107-2014-04-09-18-08-57.html

    Alguem de voce, do blog Liberto Prometheo é capaz disto ? Se voces quiserem vencer nalgum ponto, devem enfrentar o inimigo, não é mesmo ?

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    1. Caro Anónimo,

      Por qual razão iremos rebater um texto vulgar escrito numa página de trapaceiros sobre autores que mal conhecemos e que não nos servem de inspiração? Quanto a enfrentar o inimigo, trate de ler os posts do blogue ao invés de vir cá dar lições de valentia sob o anonimato, ou melhor, fique ao lado do astrólogo organizador de surubas.


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    2. O que faz Dugin junto destes tipos ? E as construções Neomaçonicas em Cazaquistão, que por sua vez é um feudo da KGB ? E Putin e seus parceiros oligarcas judeus ?

      A algo muito estranho nisso tudo. Seus seguidores merecem esclarecimentos.

      Não dissimule e nem se escape.


      Obs : Não sou seguidor do Astrologo de Virginia que é chupador do sionismo-maçonico.

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    3. Anónimo,

      Se não és seguidor do astrólogo, então devo um pedido de desculpas por tal ofensa. Quanto ao Dugin, é um cavalheiro sobre o qual não posso emitir opinião quanto às ideias pessoais, afinal, teria de ler tudo o que escreveu, e não apenas artigos isolados, para poder dizer algo com certeza ou ao menos especular sobre uma base mais sólida. Tudo o que posso dizer é que as propostas que conheço, em termos de reorganização geopolítica mundial, vão contra o que defendo, e que o professor Dugin, apesar de ter acesso a meios mais elevados da política russa, não é o mentor de Putin. Putin, isso posso garantir, é um estadista pragmático que jamais se deixaria levar por um filósofo pois sabe que a Rússia está perante a possibilidade de ser completamente destruída. Putin lê e ouve todos os que são bem informados e podem fornecer diferentes perspectivas a respeito dos vários problemas russos, mas não é um seguidor de modo algum, é um líder.
      Quanto ao Cazaquistão, há muitos anos fiquei incomodado ao ver as fotografias de Astana. Tens razão em afirmar que aquilo é arquitectura maçom, ou, pelo menos, ocultista. Porém, devemos ter cuidado ao dizer que o Cazaquistão é um feudo do KGB. Em primeiro lugar, a noção de que o KGB era assim tão impenetrável e monolítico, na qual acreditei, caiu por terra à medida que estudei a evolução russa, especialmente após o fim da URSS. Os cripto-judeus sempre tiveram força por lá, apesar de não serem o elemento dominante, ao menos desde a era Estaline.
      En segundo lugar, o Cazaquistão não está alinhado com a Rússia, fazendo no máximo um jogo duplo que mais favorece o interesse dito americano. Basta procurar informações a respeito da utilização de bases militares cazaques pelos EUA. A situação por lá, tal e qual na Ucrânia e no Quirguistão, para ficarmos por dois exemplos, é cinzenta e dá a entender que há um jogo com três actores, onde um, o menor, tenta ganhar o máximo dos outros dois.
      Quanto à parceria entre Putin e os oligarcas judeus, diria antes que há uma relação incómoda. Putin, ao contrário do que por cá a imprensa faz parecer, não tem tanto poder como afirmam e ele sabe disso. Consegue manter os oligarcas na linha até certo ponto, mas diante de certas pressões em certas circunstâncias, também é obrigado a ceder. A Rússia de hoje é bem mais complexa do que os olavistas e neo-cons querem fazer parecer para criar um monstro. Se lembrarmos da história recente russa, desde a queda da URSS até a presidência Putin, fica claro que a política por lá foi caótica, repercutindo inclusive no preparo e na disciplina das forças armadas. Não hesito em dizer que admiro Putin por conseguir dar conta de dois jogos de xadrez ao mesmo tempo, um a nível interno e outro a nível externo. Para jogar esse jogo, é preciso compreender o mundo da inteligência, e Putin teve uma boa escola.
      Ainda faço mais uma observação, para provar o meu ponto de vista de que Putin é um pragmático cujo interesse maior é salvar a Rússia. Há uns anos, quando da confusão com a Geórgia, que é um feudo do sionismo, Putin não hesitou em fazer um acordo com Israel em detrimento do Irão. Conseguiu que Israel deixasse de apoiar a Geórgia materialmente em troca da promessa russa de atrasar a entrega de baterias anti-míssil para o Irão.
      Enfim, apesar de tudo, podes ter a certeza de que todos os dias me surgem novas dúvidas e que a coisa que mais desejaria é ter um serviço de informações ao meu dispor, para saber tanto quanto os de lá de cima.
      Porém, de uma coisa tenho certeza absoluta: não é com os trapaceiros e moleques que orbitam em torno do astrólogo que vou aprender alguma coisa. O que eles fazem é desinformar, ainda que sejam eles próprios desinformados.

      Abraço.



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    4. Obrigado pela resposta.

      Mesmo assim, penso que a atual Russia é extremamente forte e influente, so não é mais forte (por enquanto) pelos seguintes motivos :

      *Ainda esta se re-erguendo e se re-organizando.

      *Esta com pensamento conservador/religioso/tradicionalista (não que seja um problema, pelo contrario, é vital, mas isto causa desconfiança aos atuais comunistas, que na maioria das vezes são pro-Russia ou pro-Asia, ou qualquer coisa que seja anti-Ocidental, por isso ainda não abraçaram a causa Russa com toda a força).

      Para mim quase todas as ex-Republicas Sovieticas ainda tem governantes totalmente pro-Russia, como se ve em Belarus e outros, logo logo formarão a União Eurasiana, Imperio Eurasiatico ou Imperio da Grande Russia, e este sera um fortissimo contra-ponto ao Imperio Anglo-Judaico-Maçonico, por isso o desespero do Astrologo-Mor e dos Conservatards e Neocons internacionais.

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