Desde a mais recente campanha presidencial, o
chanceler Ernesto Araújo mantém um blog denominado Metapolítica 17
(referência ao número do então candidato Jair Bolsonaro), que pode ser
acessado atualmente no endereço www.metapoliticabrasil.com. Apesar do endereço, a antiga capa e o nome original foram mantidos:
Quando da indicação desse Ministro, Olavo de Carvalho reagiu
a uma publicação de Martim Vasques na qual o ex-aluno e atual
desafeto, apelidado de Martim Vaca, teria divulgado os posts de um russo
que teria dito que Ernesto Araújo tem ligações com a "nouvelle droite"
de Alain de Benoist exatamente por utilizarem, ambos, o termo
"metapolítica":
É verdade que, como se lê no printscreen
acima, metapolítica é um assunto, não indicando necessariamente a
pertença a um grupo específico, mas também é verdade que o termo tem
mais de um sentido, e aquele no qual o chanceler se enquadra o aproxima
por demais do que pensam e fazem certos "grupos iniciáticos".
É o que se conclui do artigo "O que é Metapolítica?", de Alberto Buela, cuja tradução foi publicada no Brasil em 2014, bem antes, portanto, de tal discussão e evidentemente não influenciado por ela.
Buela identifica 3 acepções do termo, sendo que somente as duas primeiras flagrantemente divergem das posições exibidas publicamente por Ernesto Araújo:
A primeira acepção refere-se ao desenvolvimento de uma atividade cultural como "condição
prévia e necessária para a tomada do poder político", mas, idealmente -
e, segundo Buela, contraditoriamente -, sem qualquer ação política
direta. Seria uma absorção do método gramsciano pela direita. Segundo
Buela, "[p]oucos são
os que sabem que este é o antecedente mais distante da noção de
metapolítica que começou a manejar-se em fins dos anos sessenta por um
grupo cultural francês conhecido como nouvelle droite".
A segunda acepção
é a de uma filosofia política da linguagem sem pressupostos
metafísicos, gritantemente oposta à posição do Ministro das Relações
Exteriores e à de seu guru.
Mas há a terceira acepção, que merece uma maior atenção:
Mas há a terceira acepção, que merece uma maior atenção:
"Uma terceira acepção da metapolítica está dada pelo que denomina-se tradicionalismo, corrente filosófica que ocupa-se do estudo de um suposto saber primordial comum a todas as civilizações. Cabe distinguir este tradicionalismo que por definição é ahistórico, da tradição de um povo particular como história de valores a conservar.
O máximo representante desta corrente, neste tema, é o italiano Silvano Panunzio que em sua obra Metapolítica: A Roma Eterna e a nova Jerusalém ocupa-se detalhadamente dos fundamentos da metapolítica e sua funcionalidade em nosso tempo.
Não obstante, é seu continuador o agudo pensador ítalo-chileno Primo Siena, quem melhor define esta significação de metapolítica quando sustenta: "Transcendência e metapolítica são conceitos correlativos, por ser a metapolítica veraz expressão de uma ciência não profana e sim sagrada; ciência que portanto eleva-se à altura de arte régia e profética que penetra no mistério escatológico da história entendido como projeto providencial que abarca a vida dos homens e das nações. Por conseguinte, a metapolítica expressa um projeto que - pela mediação dos Céus - os homens retos esforçam-se de realizar na terra, opondo-se às forças infernais que tentam resistir-lhes."
Caio Rossi - Publicado originalmente no blogue Pérolas da Nova Direita