Acabo de receber o seguinte texto, que, supostamente, refuta o que disse sobre Shiva no 4º Hangout da série “Descontruindo Olavo de Carvalho” no canal do Liberto Prometheo no Youtube. O texto me foi enviado com o nome do autor, mas não o identificarei aqui por não poder ter certeza de que estarei colocando as orelhas no jumento correto.
>>SHIVA SEGUNDO FRITHJOF SCHUON.
Segue em anexo o link para o artigo de Frithjof Schuon no qual ele DESFAZ a confusão feita por algumas formas de simbolismo entre Shiva e Satanás. Assim, ao contrário do que aquele "professor" afirmou, Schuon considerou ERRÔNEA a associação entre Shiva e Satanás.
O Deus do Velho Testamento, em diversas passagens bíblicas, manifestou Sua ira e provocou morte e destruição, exatamente o Shiva dos indianos. Possivelmente por isso o Livro do Jó foi escrito para demonstrar que o mal pode ocorrer a uma pessoa com o consentimento de Deus, pois Satanás testa Jó com a concordância divina.
Como talvez muitos não dominem a língua inglesa, vou traduzir trecho desse artigo de Schuon:
"Em certas formas de simbolismo - ocasionalmente até mesmo na Bíblia - há, todavia, uma coincidência de fato entre a função punitiva e destrutiva de Deus - personificada na Índia como Shiva - ( Este é um Shiva específico da "Tripla Manifestação" - Trimurti: Brahmã-Vishnu-Shiva - e não o Shiva Supremo que é sinônimo de Parabrahman e, assim, possui e controla todas as funções ) e o gênio do mal, o Satan dos semitas. Shiva é, de fato e em certo sentido, o divino cume de Tamas ( aqui Schuon se refere ao ternário vedantino formado por sattva (luminosidade) - rajas (calor) - tamas (escuridão) ), mas ELE NÃO É NATURALMENTE "ESCURIDÃO", "PESO" OU "IGNORÂNCIA"; no máximo, ele compreende um aspecto negativo ou sombrio deste ponto de vista do mundo, precisamente porque ele castiga e destrói. A confusão - real ou aparente - entre Ira Divina e o gênio do mal é uma elipse que significa que o mal, na medida que é um fenômeno necessário, está integrado, em análise final, numa função celestial." www.studiesincomparativereligion.com<<
Temos acima, então, uma misericordiosíssima tradução de um texto cuja fonte não é especificamente identificada, ao contrário do que eu tenho feito em todos os Hangouts da série. Só alguém que saiba usar bem o Google consegue chegar à fonte exata sem grandes dificuldades. Bem, eu sei, e cá está ela.
Vejamos agora, trecho por trecho, no original e em português, o que Schuon diz exatamente:
It is worthwhile recalling here that Hindu doctrine accounts for the possibility of evil by means of the concept of the universal triad: Sattva-Rajas-Tamas, namely—analogically speaking— “luminosity,” “heat,” “darkness”; this last is not evil as such but the ontological root of this phenomenon.
Tradução:
Vale a pena lembrar aqui que a doutrina hindu explica a possibilidade do mal através do conceito da tríade universal: Sattva-Rajas-Tamas, a saber – em termos analógicos – “luminosidade”, “calor”, “escuridão”; esse último não é o mal enquanto tal, mas a raiz ontológica desse fenômeno.
Ou seja, tamas não é o mal em si, mas a raiz ontológica do mal.