quinta-feira, 17 de março de 2016

Brasil: à beira do precipício, eis que seu povo resolve dar um passo em frente...



Até a poderosa Rússia teve seu território reduzido nas últimas décadas,
mas os brasileiros acham que são imunes à cobiça...


Há alguns anos, pouco depois do meu rompimento definitivo com o líder de seita Olavo de Carvalho, escrevi isto:


Desde então, como é natural, refinei a minha posição, e reescreveria o artigo, redigido às pressas, para obter maior clareza e comportar as descobertas feitas desde então, mas o essencial na parte política se mantém: o Brasil tem sido desde há muito alvo de uma campanha de desestabilização e Olavo de Carvalho foi uma peça fundamental.

Olavo não tem a mesma audiência de jornalistas como Reinaldo Azevedo, sabemos, mas foi ele que criou o movimento que mais tarde levaria o mainstream da direita a citar o Foro de São Paulo e a identificar no PT um perigo à democracia, por coincidência no mesmo momento em que as redacções dos grandes jornais, a conta-gotas, começaram a dar mais voz à direita e a silenciar o apoio ao PT, num processo que ainda continua. O espírito por detrás do movimento também traz a marca do guru, afinal, é irracional e não tem nenhum objectivo claro a não ser a derrubada do PT a qualquer custo, num quadro mental de guerra santa. A conexão romena, exposta por Caio Rossi, dá pistas a respeito da técnica utilizada e das intenções por detrás disso. A eficácia da acção de Olavo foi tal que ninguém estranhou que o homem que até há pouco afirmava que o Brasil estava perdido, justificando assim a sua fuga para a Virgínia, e que se deveria formar uma classe intelectual no exílio pensando a longo prazo, já que o PT havia ocupado todos os espaços após décadas de guerra cultural inspirada nos ensinamentos de Gramschi e, ainda por cima, era o único partido com militância, agora defenda que o poder deve ser cair na rua, como um jacobino, opinião em que é seguido até mesmo por desafectos!

segunda-feira, 14 de março de 2016

Elementos essenciais para uma compreensão do papel da China no mundo - parte 3




Revolta Taiping: numa época cujo potencial de destruição era bem inferior ao nosso, 
essa cobrou algo entre 20 a 40 milhões de vidas...


Nos posts anteriores sobre a China (parte 1, parte 2), abordei os progressos materiais das últimas décadas. Agora tratarei de analisar as distorções criadas pelo modelo adoptado pelo regime chinês, começando pela dívida. Lastreado pelas experiências prussiana, mas especialmente pela japonesa e coreana, o regime chinês optou por um modelo de crescimento económico em que a alta-poupança da população, apesar dos baixos salários, se combinou ao crédito facilitado a grupos económicos privados, mistos e públicos especializados nos sectores classificados como prioritários. Para além do acesso quase irrestricto ao crédito, tais grupos também foram beneficiados por meios mais discretos, nomeadamente por um regime de câmbio favorável às exportações e ao acesso privilegiado à matéria-prima garantido pelo empenho do regime chinês em “amarrar” os grandes fornecedores e sufocar a oferta disponível para a concorrência. 

Mas, ao contrário da Coreia, nação com algumas dezenas de milhões de habitantes, ou o mais populoso Japão, cujo esgotamento do modelo de crescimento baseado nas exportações de manufacturas resultou numa em deflação que dura há duas décadas, a China sozinha representa 1/5 da humanidade e, para piorar o quadro, as grandes nações consumidoras chegaram ao limite do endividamento e se encontram estagnadas, não podendo mais sustentar o crescimento chinês por via das suas importações. A aposta no progresso material da China através de tal investimento massivo nas indústrias de base e exportadoras, do ponto de vista económico, não faz sentido, ainda mais quando o êxodo rural, incentivado pela política de cerco à propriedade rural  e de deslocações forçadas de gente pelo recurso às grandes obras públicas, como no caso da famosa hidreléctrica das Três Gargantas, é colocado na equação. Tal modelo, inevitavelmente, conduz a um excesso de capacidade productiva e ao endividamento massivo, uma péssima combinação mesmo em nações menores que a China, e numa nação como a China, pode acabar num desastre social de proporções inéditas (lembrem que o Reino Unido, assim como a Alemanha, tiveram o cano de escape da emigração durante fases análogas do seu crescimento).

sábado, 12 de março de 2016

Agradecimento aos leitores do Prometheo Liberto

Chegará o momento!

Reparando no crescimento da nossa audiência, que nas últimas três semanas se consolidou no patamar das 2.000 visitas diárias, decidi investigar o público dos blogues mais populares para compreender o significado da marca, que me pareceu longe de insignificante, ainda mais sabendo que os nossos leitores são uma minoria entre a minoria.

Foi com surpresa que constatei que, de acordo com os números de Março, somos o quarto maior blogue dedicado à política em Portugal. Os números podem ser consultados neste endereço, mas deixo aqui um quadro reduzido aos blogues inteiramente dedicados à politica:

Blogue
Visitas Diárias em Março/2016
O Insurgente
6.231
Aventar
4.289
Delito de Opinião
2.473
Prometheo Liberto
2.000

A importância disso é maior do que parece à primeira vista, a começar pelo facto de que o blogue Prometheo não segue a pauta dos media corporativos, ao contrário dos três maiores blogues de Portugal, e faz oposição total ao regime, sem jamais dar quartel ou chegar a qualquer tipo de acordo. Entre nós não há e jamais haverá um deputado ou qualquer outro sicofanta dos partidos ou instituições que mantém o regime, como é habitual nos grandes blogues. Por outro lado, lembro que a nosso respeito a política dos blogues e jornalistas associados ao regime é de omissão total, apesar de sermos lidos por todos eles. É aqui que eles vêm se informar e, mesmo assim, estão sempre atrasados em relação ao que divulgamos e nem sequer ousam navegar pelos mares desconhecidos que temos desbravado, como no caso da exposição do perenialismo ou, para citar algo mais convencional, das análises que fazemos da política internacional e da crítica que movemos ao estado moderno.

terça-feira, 8 de março de 2016

Elementos essenciais para uma compreensão do papel da China no mundo - parte 2

No primeiro post da série elementos essenciais para uma compreensão do papel da China no mundo, lancei uma série de estatísticas que evidenciam a revolução que se deu no mundo da indústria com o desenvolvimento chinês das últimas três últimas décadas. Tal evolução se fez sentir não apenas na indústria pesada de base, como exposto, ou na indústria de bens de consumo não duráveis, como todos sabem, mas também no sector de bens de consumo duráveis.

Nada melhor, especialmente levando em conta a importância do aprendizado da gestão de linhas de montagem complexas, do que os números da indústria automobilística para compreendermos o que se passou (pesquisem os mesmos dados para o ano de 1990):


Área
Producção de Automóveis (2014)
China Continental
23.722.890
União Europeia
16.976.883
Estados Unidos da América
11.660.699


Em 2014, é importante observar, a producção de automóveis na China quebrou um novo recorde. Enquanto isso, a indústria europeia tem enfrentado uma lenta contracção desde 2007, enquanto a americana teve o seu auge em 1999

sábado, 5 de março de 2016

Elementos essenciais para uma compreensão do papel da China no mundo





Há cerca de sete anos, ouvi um dos relatos mais impressionantes da minha vida numa conversa com um amigo com mais de uma década de experiência por lá. Contou-me a respeito da paisagem que observou num porto próximo a Xangai, em que um espaço equivalente a duas dezenas de campos de futebol estava ocupado por pilhas retangulares de seis metros de altura constituídas por toras com mais de um metro de diâmetro. O mais impressionante não era a vista, mas o facto de que as toras procediam de “ilhas no Pacífico”. Por aí já se pode formar uma ideia bem clara da demanda chinesa, porém, chega de prosa e vamos aos números.

Poucos sabem, mas em termos reais, e é isso o que conta em termos políticos, especialmente se pensarmos na hipótese de conflicto, a economia chinesa  ultrapassou não apenas a economia americana, mas também a economia reunida das nações sob jugo da União Europeia. Abaixo reproduzo as minhas estimativas para o PIB (PPP) de 2015:

Área
PIB (PPP) 2015 x US$1.000.000
China Continental
19.354.217
União Europeia
18.826.815
Estados Unidos da América
17.868.517

terça-feira, 1 de março de 2016

China, a peça fundamental na crise síria.



Se alguma nação pode fazer a diferença na questão síria, é a China. Bastaria à China enviar alguns milhares de soldados em apoio a Assad para que a questão fosse fechada, afinal, isso "blindaria" a posição de Putin e tornaria o risco do jogo practicado pelos governos ocidentais politicamente insuportável, mesmo considerando o peso dos interesses sionistas. O ganho de estatuto diplomático e soft power pela China também se traduziriam em profundas mudanças a Oriente, com uma possível reorientação da Coreia do Sul, do Japão e de Taiwan para posições mais orientadas para um concerto com Pequim. A questão é saber por qual razão a China ainda não "pediu para ser convidada".

A discrição chinesa, apesar dos sinais, pode ser encarada como discrição e responsabilidade, mas por outro pode ser encarada como mera satisfação à Rússia num jogo onde interessará à China que uma guerra de grandes proporções seja despoletada. Talvez seja essa a única esperança do regime num quadro onde o quadro económico futuro é cada vez mais sombrio e, consequentemente, a bolha chinesa pode estar prestes a arrebentar. No fim das contas, é a razão entre a proximidade do estouro da bolha chinesa e os avanços do programa de rearmamento chinês, relativamente aos programas de armamento e o estado das forças militares dos outros blocos que contam, que determinará se a China vai ou não usar o seu peso para dissuadir as elites que mandam no Ocidente de continuarem o seu perigoso jogo...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Subsídios para uma melhor compreensão do potencial da crise do Médio Oriente



Poucos sabem, mas a força militar combinada da Turquia e da Arábia Saudita é suficiente para podermos considerá-la uma possível ameaça às nações da Europa Ocidental. Se Israel ao conjunto, com seus vastos arsenais de armas nucleares, biológicas, biogenéticas e químicas, e lembrarmos que todas essas nações possuem sistemas de defesa aérea sofisticados, enormes contingentes de reserva e inúmeros MBTs e veículos militares, é natural que perguntemos, ainda mais quando entra na conta a progressiva invasão da Europa por refugiados e jihadistas, como é que chegamos a tal situação desde a segunda guerra mundial. Nos dias que correm, em que os governos da Turquia e da Arábia Saudita combinados aos interesses ligados a Israel não apenas promovem a desordem no Médio Oriente, causando as marés de refugiados, como as dirigem para o continente europeu e financiam abertamente os lobbies pró-invasão, penso que é uma pergunta natural...

Num post antigo divulguei os números relativos às forças aéreas das três nações mencionadas. Agora penso que é uma ocasião propícia para falarmos dos meios navais, começando pelos submarinos. No caso da Turquia, que detém a maior frota, ela possui 14 submarinos U-209 no activo. Os três primeiros foram construídos na Alemanha pela HDW, ou seja, pela renomada casa  Thyssen-Krupp, sendo o resto construído localmente nos estaleiros Gölcük. Para além destes submarinos, a Turquia assinou um contracto com a HDW para a construcção local de seis U-214 com propulsão AIP, num programa que, tal e qual o grego, sofreu muitos atrasos por problemas técnicos e políticos, mas que, ao contrário do grego, aproveitou-se das dificuldades sofridas pelos primeiros compradores, com destaque para a Grécia, para que avançasse rapidamente a partir de 2015.