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quarta-feira, 13 de julho de 2016

A punição de Portugal (e Espanha) por Bruxelas vista de uma curta perspectiva histórico-económica

Se sairmos do euro, seremos como a Albânia por 50 anos. E ainda gozam com 
os que acreditam no Pai Natal...



Comotodos esperavam, a meta do défice será ultrapassada e sofreremos sanções. Nada que seja tão grave como fazem parecer os jornais, afinal, 0,2% do PIB, verdade seja dicta, é uma insignificância quanto pensamos em tudo o que é desperdiçado. Muito mais perdemos por estar na união europeia, a começar pelos preços acrescidos, passando pela competitividade perdida por causa da adopção do euro e dos regulamentos europeus e terminando nas oportunidades acrescidas do governo perdulário gastar acima das suas possibilidades graças à garantia que a pertença à zona euro dá à banca internacional, ou seja, capacidade para lançar impostos no futuro (a dívida pública mais não é do que um imposto adiado, a não ser que se tenha em mente uma moratória...).

Para variar, as críticas à direita e à esquerda serão as mesmas de sempre. A direita culpará o actual governo de esquerda e defenderá as posições “alemãs” e a falsa austeridade dos anos de Passos Coelho, esquecendo de dizer que os bancos alemães foram fundamentais para a manutenção e incremento da onda de gastos perdulários após a adopção do euro, enquanto a esquerda culpará a ganância dos bancos, propondo ao mesmo tempo o aumento dos gastos como solução para a crise (sem dizer como financiar isso ou como se combate uma crise causada pelo endividamento com mais endividamento), e tal dialéctica acabará por sugerir a todos aquilo que foi desde o princípio o plano por detrás da adopção do euro: um governo central europeu com controlo sobre os orçamentos nacionais. A esquerda, vendendo isso como solução para que a "Europa" assuma a dívida, e direita, como solução para que os orçamentos nacionais sejam controlados por um organismo tecnocrático. Nada que já não esteja previsto no Tratado de Lisboa, aquele que foi chumbado na França e na Holanda, quando ainda se chamava Constituição, e depois passou graças à mudança de nome e se recorrendo a dois referendos na Irlanda (no primeiro, apesar das fraudes, da pressão nos empregos e da campanha mediática de terror, venceu a oposição ao Tratado de Lisboa)

Agora convém lembrar um bocado como chegamos até aqui para que o culpado, e ele existe, seja exposto. Ainda durante a discussão sobre a adopção do euro, para adormecer a resistência de muitos economistas liberais, que enxergaram que a adopção de uma moeda única por uma série de estados diversos levaria a um ciclo vicioso em que seria vantajoso para cada estado gastar mais do que os outros já que os custos inflacionários seriam repartidos (e os precedentes históricos, como a União Monetária Latina, foram desastrosos), se propôs um conjunto de parâmetros que ficou conhecido como os “Critérios de Maastricht”. Basicamente consistia em que nenhum estado poderia entrar para o euro sem um défice abaixo de 3% e uma dívida pública superior a 60% do PIB. Já na altura da adopção do euro, por pressão do grupo europeísta, os critérios de tecto para a dívida foram ignorados e se fechou os olhos para as fraudes contabilísticas que maquilhavam o défice real da maior parte das nações europeias. 


Porém, já quando da adopção do euro,  a Itália, a Bélgica, a Alemanha, a Espanha, a Holanda, a Áustria e a Grécia (que entrou um ano depois) ultrapassavam o tecto da dívida pública (os casos da Itália e da Bélgica eram especialmente graves), e a mesma Grécia e a Espanha não cumpriam a regra do défice abaixo dos 3% do PIB, apesar de toda a tolerância para com a fraude nos números apresentados nos orçamentos. Portugal cumpriu todos os critérios, ainda que tenha recorrido à maquiação dos números, como todos fizeram (sim, não há excepção e houve conivência, ou melhor, incentivo desde Bruxelas) e assim começou a nossa “aventura”. É bom lembrar que a economia portuguesa, nessa altura, já estava quebrada.  Para resumir, Portugal conseguiu crescer depois da entrada na CEE graças às remessas do exterior, mais dos emigrantes do que dos subsídios europeus (dirigidos para grupos sociais ligados à máquina pró-CEE e consumidos em grande parte em consumo perdulário), e perdeu quase tudo o que possuía em sectores com maiores possibilidades de desenvolvimento na nova era de abertura a nível mundial, inclusivamente destruindo as bases da economia para se encaixar no mercado único (agricultura, pescas e indústria pesada). Em troca, recebemos a abertura do mercado europeu para os nossos têxteis e calçados, isso na mesma altura em que era negociada a Rodada Uruguay do GATT (actual OMC) e o acordo multi-fibras estava para caducar. Na verdade, a Europa oferecia a miragem de um mercado a Portugal enquanto negociava a entrega do mesmo aos chineses em troca da sua maior abertura às grandes corporações europeias, com foco para as alemãs. O povo, ocupado, mal sabia que estava a ser enganado, mas os que negociaram a nossa "anexação" pela CEE sabiam exactamente o que estavam a fazer... Enfim, com a crescente competição chinesa, no final dos anos 90 se esgotou a nossa capacidade de crescer e estagnamos a partir de 98. Com a adopção do euro, pudemos viver mais alguns anos na ilusão, à custa do endividamento, mas já voltaremos a isso.
Pouco depois da adopção do euro, ou melhor, logo a seguir, a Alemanha quebrou o critério de défice, e no ano posterior foi seguida pela França. Em nome da solidariedade europeia, diante da perspectiva irreal de se impor regras aos mais fortes e sob uma enchente de propaganda (ah, se não me lembro de quando diziam que a punição levaria ao "fim do sonho europeu", ao renascer dos fantasmas do passado e a uma nova guerra no continente!), passamos a simplesmente ignorar os tais critérios. Portugal já vivia de ilusões. Durante o governo Durão Barroso, muitos devem lembrar, foi aprovado o famigerado imposto por conta, o que mais não era do que a admissão de que o estado havia quebrado e agora fugia para a frente. Era hora de reformar, mas Durão, como sabemos, deixou a nação nas mãos de um incompetente preparando o caminho para Sócrates e agarrando a sinecura de Bruxelas, onde continuou a servir os que agora lhe deram um emprego. Porém, dentro do euro, agora era possível tomar dívidas numa divisa forte sem que tivéssemos de pagar juros acrescidos por conta do risco de desvalorização, e Portugal era ainda o menino de Bruxelas. A dívida pública disparou.

Enquanto isso, os mesmos bancos e agências de rating que agora clamam contra Portugal afirmavam que a nossa dívida era segura, classificando a mesma num patamar que convidava ao endividamento. Já eu nessa altura, ainda liberal (tinha um blogue chamado Revolta Liberal, inclusivamente seguido e elogiado pelo actual deputado Carlos Abreu Amorim), dizia que estávamos a ser enganados e que no fim perderíamos a soberania. E foi o que se viu. Caiu a farsa, caiu o governo Sócrates e assumiu Passos Coelho, que aproveitou para subir ainda mais os impostos, num país massacrado por uma carga tributária genocida, e cortou nuns poucos gastos com a parte mais carente da população para manter o essencial dos gastos, ou seja, os 30% dos gastos orçamentais com desperdícios nos tais institutos que empregam os filhos dos sampaios e durões da vida, com as ilegítimas e criminosas PPP e manteve o mesmo número soviético de funcionários públicos, sem oferecer nenhuma solução de facto. 

Bastaria um soluço para expor a farsa, e o soluço foi garantido pela troca de governo recente, onde assumiu o companheiro de conferência Bilderberg de Passos Coelho, o senhor António Costa. Ainda que não tivesse assumido o senhor António Costa, bastaria uma nova crise bancária no exterior, ou mais uma quebra de um banco por aqui, para que a falsa austeridade fosse exposta como um engodo que apenas garantiu sobrevida à drenagem dos recursos portugueses pela banca internacional.
E pronto, assim chegamos aqui.  Sei que as pessoas capazes entenderão a lógica por detrás do que se passa, ou seja, de que o endividamento foi induzido desde fora e a lógica populista do bipartidarismo imposto a Portugal com o golpe do 25 de Abril serviu para mascarar o que de fato se passa, afinal, todos sabemos que não são os portugueses que escolhem os cavalos que correm na corrida eleitoral (pensem nas conferências Bilderberg).

Infelizmente, quase toda a gente foi pautada pelo discurso mediático, seja de direita, seja de esquerda, e lugares-comuns como "fora do euro seremos como a Albânia" cegam o homem comum, para o qual a economia, uma ciência que em verdade exige pouco estudo, é um mistério. Enfim, isso é tipo de comentários que ouvimos por aí e mais não e do que o reflexo do trabalho bem sucedido de guerra psicológica levado a cabo pelo "europeísmo". Podemos - e devemos - sair do euro e ganhar muito com isso se formos espertos, e se não formos, posso garantir, viveremos apenas uns meses de dificuldade e incerteza mas a economia logo se ajustará, ainda não que seja pela via da desvalorização cambial e da substituição de importações e aumento das exportações, que no fundo é o que precisamos. Logicamente que os economistas imberbes dirão horrores de tal ideia, mas vos posso garantir que esses nem conseguiriam administrar uma mercearia com 50 artigos. Caros, eu testemunhei que aconteceu ao Brasil e à Argentina em situações semelhantes e o que os economistas imberbes afirmaram então. Sob a força das circunstâncias, o pior que pode acontecer, o Brasil acabou por abandonar o regime de banda cambial e a Argentina abandonou a paridade Peso/Dólar, e o que afirmavam com tanta certeza que traria o fim do mundo acabou por salvar essas nações, e olhem que a situação social nesses países era incomparavelmente mais explosiva do que em Portugal.

Se continuarmos agarrados ao euro, podem anotar, acabaremos por sucumbir no espaço de uma geração e ainda corremos o crescente risco de cair a pique caso o euro seja abandonado pela Alemanha, com enorme risco para a nossa continuidade como nação. Se sairmos mal, passaremos por dificuldades passageiras e dentro de 6 a 12 meses a nossa economia estará em condições de voltar a crescer. Se sairmos bem, com um plano concreto de reforma do estado e de incentivo ao crescimento através de uma politica de saldo orçamental permanente e reducção dos impostos a um nível onde possamos competir sem recorrer ao esmagamento dos salários, e iniciativas ambiciosas e facilmente implementáveis num quadro de exercício pleno da nossa soberania, o que também exigirá a saída da UE (pensem nas dificuldades que a Irlanda sofre por ser mais competitiva que a Alemanha), podemos aspirar ao euro da economia. Quem diz o contrário não sabe do que fala, ou é conivente com o regime. De resto, para que fique bem clara a farsa que foi a "austeridade" do governo Passos Coelho, deixo aqui uma recomendação de leitura:

Crescimento da Irlanda em 2015 revisto para... 26,3%

1 comentário:

  1. O relógio da dívida refuta todas as insinuações da mídia.
    Portugal deve 251.900.000.000 €
    Alemanha deve 2.252.570.000.000 €
    A Alemanha tem uma dívida 10 vezes maior que Portugal.
    http://www.boerse.de/boersenwissen/staatsverschuldung/

    Enquanto Portugal paga 3,1% de juros, a Alemanha paga -0,1% de juros.

    Essa diferença de juros demonstra a política monetária do Euro - Ajudam os alemães, pois os outros países serão os bodes expiatórios, idiotas que pagarão a conta.

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